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O Cataio
«Carpine mencionara o Cataio, Rubruk identificava-o com Seres; mas a divulgação do antigo reino dos Kitans, no mundo ocidental, foi realizada por Marco Polo na sua descrição famosa das riquezas do Oriente.
Reinava Kubilai Khan, que elevara a dinastia ao seu mais alto esplendor. Os seus domínios estendiam-se desde o mar Negro às margens do pacífico. Desceram as suas hostes do Cataio para impor a lei ao Sul Chinês, onde a dinastia Sung lhe tinha de ceder o passo. Era este imenso império, atulhado de riquezas sem medida, que Polo fora encontrar, encetando novo período de contacto entre os dois mundos e revelando, a uma Europa gasta e empobrecida, novas possibilidades de se engrandecer. Assim descrevia o Veneziano, na versão que tanto impressionara os portugueses, «a grandeza e poderio de Cublay muy grande rey dos Tartaros... cujo poderio se demostra ser mayor em riquezas e senhorios de Terra e de presidençia de multidom de pouoos, que nenhuü outro rey ou principe de que todos os tempos passados seja contado...».
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O relato era cheio de pormenores atraentes que possivelmente deixariam em dúvidas os letrados, mas que encheria de esperanças a “gente de algo”, na mira de poder, um dia, aumentar não só a fazenda como o lustre da estirpe; e sobretudo a massa plebeia, de imaginação escaldante, ansiosa de aventura para se livrar à vida esforçada no amanho das terras do seu Senhor, à faina árdua da pescaria costeira, à guerra em que era apenas o pião que de peito aparava as primeiras lançadas. O sonho do Oriente começava a despontar.
Marco Polo seria então considerado o demónio tentador? Se tais reinos existiam, prenhes de riquezas como ele os apresentava, eram também largos campos para a sementeira cristã, pois o Veneziano, confirmando Carpine e Rubruk, contava que aquele mundo era infiel mas em parte tocado da heresia nestoriana.
NOTA: Capítulo LXIII, Livro I da edição portuguesa. «…Depois destas cinco jornadas he achado ho regno de Eguermul ho qual he na grande prouincia de Taanguth e he sogeyto ao senhorio do gran Cham. Alli há christãos nestorianos e ydolatras. […] Na prouincia de Catayo, empero primeyro acham a cidade a que chamam Singuy. Tributaria ao Gran Cham onde outrosy há christaãos nestorianos e ydolatras e outros que adoram a Mafomede».
Não podia haver impedimentos, era nova “cruzada” que se ia preparando na alma cristã de todos, na ambição e sonho de muitos.
Que deslumbramento não haveria ao percorrerem-se, ao ouvirem-se, aquelas páginas em que Polo, pela primeira vez, desvendava ao Ocidente as virtudes mágicas do carvão, «das pedras que .ardem assim como a lenha».
In Eduardo Brazão, Em Demanda do Cataio, A Viagem de Bento de Goes à China, 1603-1607, Gráfica Imperial, 2ª edição, Lisboa 1969.
Cortesia de Gráfica Imperial/JDACT