«Os olhos de Sato se estreitaram. Estamos na Rotunda do Capitólio dos Estados Unidos, professor, não em um altar sagrado dedicado a antigos segredos místicos. Na verdade, minha senhora, disse Langdon, conheço um grande número de historiadores que iriam discordar.
Nesse
mesmo instante, do outro lado da cidade, Trish Dunne estava sentada dentro do
Cubo diante do brilho do telão de plasma. Terminou de preparar seu spider
de busca e digitou as cinco expressões-chave que Katherine havia lhe passado.
Isso não vai dar em nada. Sentindo-se pouco optimista, ela accionou
o spider, dando início por
toda a rede. A uma velocidade estonteante, as expressões passaram a ser comparadas
a textos espalhados pelo mundo todo... em busca de uma correspondência
perfeita. Era inevitável que Trish se perguntasse qual era o sentido daquilo,
mas ela já havia aprendido a aceitar que trabalhar para os Solomon significava
nunca conhecer todos os factos.
Robert
Langdon lançou um olhar ansioso para o seu relógio de
pulso: 19h58. O rosto sorridente de Mickey Mouse não conseguiu alegrá-lo. Preciso encontrar Peter. Estamos perdendo
tempo. Sato
havia se afastado por alguns instantes para atender um telefonema, mas logo
voltou para junto de Langdon. Professor, estou atrapalhando algum compromisso
seu? Não, senhora, respondeu Langdon, tornando a cobrir o relógio com a manga do
casaco. Só estou muito preocupado com Peter. Entendo, mas eu lhe garanto que o
melhor que o senhor pode fazer por ele é me ajudar a entender a maneira de
pensar do homem que o sequestrou.
Langdon
não tinha tanta certeza disso, mas percebeu que não iria a lugar nenhum antes
de a directora do ES conseguir a informação que desejava. Agora há pouco, disse
Sato, o senhor sugeriu que a Rotunda é de certa forma sagrada segundo o conceito
desses Antigos Mistérios. Isso mesmo, senhora. Explique para mim. Langdon sabia
que teria de escolher com parcimónia as palavras. Havia passado semestres
inteiros leccionando sobre o simbolismo místico de Washington e, só naquele
prédio, a lista de referências místicas era quase interminável. Os Estados Unidos têm um passado oculto.
Sempre
que Langdon dava alguma palestra sobre a simbologia dos Estados Unidos, seus
alunos ficavam surpresos por descobrir que as verdadeiras intenções dos pais fundadores da nação não
tinham absolutamente nada a ver com aquilo que tantos políticos agora
afirmavam. O destino que se
pretendia dar aos Estados Unidos se perdeu na história. O primeiro nome dado pelos pais
fundadores à capital por eles edificada tinha sido Roma. Eles haviam baptizado
seu rio de Tibre e construído uma capital clássica de panteões e templos, todos
adornados com imagens de grandes deuses e deusas, Apolo, Minerva, Vênus, Hélios,
Vulcano, Júpiter. No centro, como em muitas das grandes cidades clássicas,
erigiram uma duradoura homenagem aos antigos, o obelisco egípcio. Esse
obelisco, mais alto até do que os do Cairo ou de Alexandria, erguia-se 170
metros em direcção ao céu, maior que um prédio de 30 andares, proclamando
gratidão e honra ao fundador semidivino ao qual aquela capital devia seu mais
novo nome. Washington.
Agora,
séculos mais tarde, apesar da separação entre Igreja e Estado no país, aquela
Rotunda patrocinada pelo governo estava repleta de simbolismos religiosos
antigos. Havia mais de uma dezena de deuses diferentes na Rotunda, mais do que
no Panteão original de Roma. O Panteão romano, é claro, fora convertido ao
cristianismo em 609... mas este panteão
nunca havia sido convertido; vestígios de sua verdadeira história ainda
permaneciam claramente visíveis.
Como
a senhora deve saber, disse Langdon, esta Rotunda foi projectada como um
tributo a um dos santuários místicos mais venerados de Roma. O Templo de Vesta.
Das virgens vestais?, Sato parecia duvidar que as virginais guardiãs da chama
de Roma tivessem algo a ver com o prédio do Capitólio norte-americano. O Templo
de Vesta em Roma, disse Langdon, era circular e tinha um enorme buraco no chão,
dentro do qual o fogo sagrado da iluminação era mantido por uma irmandade de
virgens cuja tarefa era garantir que a chama jamais se apagasse. Sato deu de
ombros. – Esta Rotunda é um círculo, mas não estou vendo nenhum buraco no chão.
Não, agora não existe mais, porém durante anos o centro desta sala possuiu uma
grande abertura justamente no lugar onde está a mão de Peter. Langdon gesticulou
em direcção ao chão. Ainda é possível ver no piso as marcas deixadas pela grade
que impedia as pessoas de caírem lá dentro. O quê?, indagou Sato, examinando o chão. Eu nunca ouvi
falar nisso. Parece que ele tem razão. Anderson apontou para o círculo de protuberâncias
de ferro que marcava o local das antigas barras da grade. Eu já tinha visto
esses negócios antes, mas não fazia a menor ideia do que eram ou para que
serviam.
Você não é o único, pensou Langdon, imaginando os milhares de pessoas, incluindo
famosos legisladores, que passavam pelo centro da Rotunda todos os dias sem
saber que antigamente teriam caído dentro da Cripta do Capitólio, o nível logo
abaixo da Rotunda. O buraco no chão, disse-lhes Langdon, acabou sendo coberto,
mas, durante um bom tempo, os visitantes da Rotunda puderam ver através dele o
fogo que ardia lá em baixo.
Sato
se virou. Fogo? No Capitólio? Na verdade, era mais uma tocha grande, uma chama
eterna que ardia na cripta logo abaixo de onde estamos. A ideia era que o fogo
fosse visível pelo buraco, transformando esta sala em um moderno Templo de
Vesta. O prédio tinha até a sua própria virgem vestal: um funcionário público
federal chamado guardião da cripta, que conseguiu manter a chama acesa por 50
anos, até a política, a religião e os danos causados pela fumaça apagarem a
ideia». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand
Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.
Cortesia de BertrandE/JDACT
JDACT, Washington DC, Dan Brown, Literatura, Maçonaria,