Do
Tempo das Pirâmides ao Tempo das Catedrais. Viagens
ou Comunhão de Espírito?
«(…)
Não teria o próprio selo do Prestes João um profundo significado simbólico?
Nele podia ver-se a mão de Deus rodeada pelo círculo das estrelas. Não seria
isso um convite à viagem ao cosmos interior à busca de uma acção fundada sobre
um modelo divino? Oriente geográfico, oriente do símbolo: o espírito da Idade
Média não se deixava atrapalhar por demasiadas precisões. A geografia que
contava era a da alma. Terras míticas, povos extraordinários que incarnavam
virtudes ou vícios, animais fabulosos, tudo era descrito de forma a servir de
suporte a uma meditação. Nos seus périplos longínquos, viajantes como Odoric e
Porderone ou Jean Mandeville redescobriam a experiência vivida pelos grandes
sábios, como Pitágoras ou Platão, que tinham partido em busca dos segredos da
iniciação. Os caminhos do corpo eram menos importantes que os do espírito.
Despojar
os egípcios dos seus tesouros
Só
conseguiremos passar das trevas da ignorância à luz da ciência, afirmava Pierre
Blois, se relermos com um amor redobrado as obras dos Antigos. Os cães podem
ladrar e grunhir os porcos que não serei por isso menos defensor dos Antigos.
Para eles serão todos os meus cuidados, e a alba todos os dias me há-de
encontrar ocupado em estudá-los. Entre os Antigos que a Idade Média tanto
apreciava, estavam Aristóteles, Platão, os escritos herméticos, Virgílio e
tantos outros. A Idade Média estava bem consciente da sua herança. A cultura, no sentido moderno da
expressão, não lhe interessava. Saber para poder brilhar num salão mundano não
era o objectivo dos estudiosos da Idade Média. Se os conhecimentos simbólicos
dos Mestres de Obras eram imensos, se os monges construtores estudavam em
profundidade as tradições sagradas, isso acontecia por uma razão precisa, que
Bernard Chartres explica de uma forma tão poética como clara. Somos, dizia
ele, anões aos ombros de gigantes. Vemos mais e mais longe que eles, não porque
a nossa vista seja mais aguda ou a nossa altura superior à sua mas porque eles
nos suportam e nos elevam à sua altura gigantesca.
Os Egípcios estão em toda a parte
Foi
o escritor Grégoire Tours quem utilizou o termo vago de sírios, para
designar os numerosos orientais que se tinham instalado nas cidades francesas.
Em 394, as Actas do Concílio de Nimes
faziam referência a aqueles que, em grande número, vieram dos lugares mais
recônditos do Oriente. No século VI, estes sírios constituíam uma
minoria bem implantada, por exemplo em Paris ou Orleães. Os sírios estão em
toda a parte!, exclamava já São Jerónimo, que morreu em 420. Perdoe-se-nos termos alterado as palavras do santo quando
escrevemos egípcios, em vez de sírios, tendo em conta os diferentes pontos que
iremos referir a seguir». In Christian Jacq, Le Message des
Constructeurs de Cathédrales, Éditions du Rocher, 1980, A Mensagens dos
Construtores de Catedrais, Instituto Piaget, Romance e Memória, Lisboa, 1999,
ISBN 972-771-129-4.
Cortesia de
IPiaget/JDACT