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Rei errante que não conseguiu voltar ao trono
«(…) Carlos, todavia, resoluto e intimorato, não era homem
para recuar, mesmo perante tão flagrante desigualdade. Assediando, nesse mesmo
ano, Narva, o soberano sueco, mercê da sua habilidade e estratégia, do seu
prestígio e do valor dos seus homens, obtém sobre o inimigo memorável vitória,
deixando-o totalmente desbaratado, a saborear o amargo gosto da derrota. Bater
o colosso russo era coisa inconcebível originou a admiração do Mundo. Faltava
vencer o último dos três possantes inimigos. Carlos, verdadeiramente
incansável, senhor de uma energia assombrosa e com o carácter já caldeado pela
dureza da vida de campanha, dispõe-se a travar o que ele julgava ser a última
batalha. Sem ter voltado à sua capital depois da declaração da guerra (aliás,
ele não tornaria mais à sua corte!), avança com os seus exércitos invencíveis
sobre as tropas saxónicas do rei da Polónia, às quais consegue derrotar na
passagem do Duna, em 1701. Augusto
II logra escapar-se ao aprisionamento e retira desordenadamente. Carlos aproveita
inteligentemente a desorganização do exército inimigo, persegue-o tenazmente e
invade com os seus valorosos homens o solo polaco. Contactos fortuitos se
estabelecem, por vezes, entre os antagonistas, mas a decisão final da contenda
só em 1703 viria a manifestar-se com
uma nova e clamorosa vitória dos suecos. Estes, comandados pelo seu juvenil e
querido chefe, abatem, em Kissaw, o orgulho e a pertinácia do inimigo.
Os esplêndidos feitos de armas de Carlos XII, em série
vitoriosa e sucessiva, tiveram extraordinária retumbância no Mundo, espantado.
No seu país, tão boas e estimulantes notícias foram acolhidas com o maior e
mais justificado delírio popular. Augusto, derrotado, esmagado material e moralmente,
vê-se constrangido a abandonar a pátria e a renunciar à coroa. Os polacos,
humilhados, encarregam o seu compatriota Estanislau Leczinski, oriundo de
ilustre família e filho de Raphael Leczinski, palatino da Posnânia, de negociar
a paz junto do vencedor. E, sob o título de Estanislau I Leczinski, o negociador,
por influência sueca, sobe ao trono vago da Polónia, assinando ambas as partes
um acordo definitivo entre os dois países: o tratado do Alto-Randstadt, firmado
em 1706, após a invasão da Saxónia.
Resolvido o caso polaco, Carlos
XII, previdentemente, trata de consolidar Estanislau I Leczinski no trono, a fim
de se poderem estabelecer relações duradoiras e amigáveis entre os dois povos
vizinhos. Entretanto, os Russos, de recursos inesgotáveis e já refeitos da
tremenda derrota sofrida em Narva, reorganizados e sem desistirem das suas
pretensões de domínio, ao mesmo tempo que animados do desejo de desforra, preparam-se
activamente para marchar contra os invictos suecos e entravar-lhes o sucesso
das armas. As contínuas vitórias de Carlos XII estavam provocando o alarme em
muitos Estados europeus e originavam, sobretudo, a inquietação no espírito de
Pedro, o Grande, pela limitação de
largas ambições territoriais». In
Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa,
s/d.
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