«(…) A revista Forbes publicou
uma imagem de capa de Hazel de uniforme branco de tenista, segurando uma
raquete na mão direita. A manchete dizia: Hazel Bannock aplica um ace na
oposição. O ataque mais poderoso do petróleo nos últimos sessenta anos. Ela
assume a coroa do marido, Henry, o Grande. O artigo principal começava assim: No
interior desolado de um pequeno e pobre Emirado abandonado por Deus chamado Abu
Zara, há uma concessão de exploração de petróleo que já pertenceu à Shell. A
área havia sido extraída até a última gota e abandonada no período subsequente
à II Guerra Mundial. Isso até Hazel Bannock entrar em cena. Ela adquiriu a
concessão por alguns míseros milhões de dólares, e os peritos no assunto cotovelaram-se
uns aos outros e sorriram desdenhosos. Ignorando os protestos dos seus conselheiros,
gastou muitos milhões mais enfiando uma broca
de perfuração rotativa numa anomalia subterrânea minúscula, situada na extremidade
norte do terreno; uma anomalia que, de acordo com as explorações primitivas
realizadas sessenta anos antes, havia sido considerada periférica ao
reservatório principal. Os geólogos da época chegaram à conclusão de que
qualquer petróleo existente na área há muito tempo tinha sido escoado para o
reservatório principal e bombeado para a superfície, esgotando e desvalorizando
o terreno. No entanto, quando a broca da senhora Bannock perfurou o impenetrável
domo de sal do diápiro, uma vasta câmara subterrânea em que os depósitos de
petróleo estavam presos, a sobrepressão do gás subiu com tamanha força pela
abertura que expeliu quase 8 quilómetros de coluna de perfuração de aço como se
fosse pasta de dentes saindo do tubo, e a abertura rompeu-se. Petróleo bruto de
alta qualidade saiu jorrando pelo ar, alcançando dezenas de metros de altura.
Finalmente tornou-se evidente que os terrenos Zara de um a sete que haviam sido
abandonados pela Shell eram apenas uma fração das reservas totais. O novo
reservatório situa-se a uma profundidade de 6.664 metros e possui reservas
estimadas em cinco bilhões de barris de óleo cru, leve e puro.
Assim que o helicóptero pousou, o
engenheiro de voo soltou a escada e desceu, estendendo uma das mãos para a
ilustre passageira, que ignorou a oferta e saltou 1,20m até ao chão, com a
leveza do leopardo com que tanto se assemelhava. Ela vestia um elegante
conjunto tipo safári, feito por medida, na cor cáqui, acompanhado de um par de
botas de deserto de camurça e uma vibrante echarpe
Hermès no pescoço. A cabeleira farta e dourada, a sua marca registada, estava
solta, ondulando ao vento. Quantos anos tinha? Hector perguntou-se. Ninguém
parecia saber com certeza. Ela aparentava estar na casa dos trinta, mas tinha
pelo menos quarenta. Ela agarrou momentaneamente a mão que lhe foi oferecida
por Hector, com uma força resultante das horas intermináveis passadas no court de ténis. Bem-vinda a Zara número
oito, senhora, ele disse. Ela lhe dirigiu um breve olhar. O azul dos seus olhos
eram de um tom que o faziam lembrar da luz do sol irradiando das paredes de uma
caverna de gelo encrustada na fenda de uma grande montanha. Ela era bem mais atraente
do que as fotografias o haviam levado a acreditar. Major Cross. Ela saudou-o
com frieza. Surpreendendo-o novamente, dessa vez por saber o nome dele, e
Hector lembrou que ela tinha a reputação de não deixar nada ao acaso. E
provavelmente havia pesquisado cada um dos diversos funcionários seniores que
poderia encontrar durante essa primeira visita ao novo campo petrolífero. Se é
esse o caso, ela deveria saber que não uso a minha patente militar, pensou, e
então lhe ocorreu que ela provavelmente sabia e estava irritando-o de
propósito. Ele reprimiu o sorriso desgostoso que surgiu nos lábios.
Por algum motivo, ela não gosta
de mim e não se esforça para esconder o facto, pensou. Essa mulher é feita do
mesmo material das suas sondas de petróleo: puro aço e diamantes. Mas ela já lhe
tinha virado as costas, indo ao encontro dos três homens que saíram de um grande
jipe Humvee bege, detendo-se ao lado dela, formando uma fila
obsequiosa de boas-vindas, sorrindo e saltitando como filhotinhos
de cachorro. Ela apertou a mão de Bert Simpson, seu gerente geral. Minhas
desculpas por ter demorado tanto para visitá-lo, senhor, mas é que estive
bastante ocupada no escritório. Ela deu um sorriso rápido e radiante, mas não
esperou pela resposta. Seguiu em frente e, sem perder tempo, cumprimentou o
engenheiro-chefe e, logo a seguir, o geólogo chefe. Obrigada, cavalheiros.
Agora, vamos sair deste vento desagradável. Teremos tempo para nos conhecer
melhor mais tarde». In Wilbur Smith, Em Alto Mar, 2011, Editora Planeta Brasil, 2012, ISBN
978-857-665-880-1.
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