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Auto-retrato
«Magro,
de olhos azuis, carão moreno,
bem
servido de pés, médio na altura,
triste
de cara, o mesmo de figura,
nariz
alto no meio, e não pequeno.
Incapaz
de assistir num só terreno,
mais
propenso ao furor do que à ternura,
bebendo
em níveas mãos por taça escura
de
zelos infernais letal veneno.
(digo de moças mil) num só momento.
Inimigo de hipócritas, e frades.
Eis
Bocage, em quem luz algum talento;
saíram
dele mesmo estas verdades
num
dia, em que se achou cagando ao vento».
Soneto do membro monstruoso
«Esse
disforme, e rígido porás
do
rosto me faz perder a cor;
e
assombrado de espanto, e de terror
dar
mais de cinco passos para trás;
A
espada do membrudo Ferrabrás
decerto
não metia mais horror;
esse
membro é capaz até de pôr
a
amotinada Europa toda em paz.
Creio
que nas f… recreações
não
te hão de a rija máquina sofrer
os
mais corridos, sórdidos cações;
de
Vénus não desfrutas o prazer;
que
esse monstro, que alojas nos calções,
é pi…
de mostrar, não de f…»
Soneto (des)pejado
«Num
capote embrulhado, ao pé de Armia,
que
tinha perto a mãe o chá fazendo,
na
linda mão lhe foi (oh céus) metendo
O
meu …, que de amor fervia;
entre
o susto, entre o pudor, a moça ardia;
e eu
solapado os beijos remordendo,
pela
fisga da saia a mão crescendo
a
cha… saca… lhe fazia;
começa
a … a menina... Ah! Que vergonha!
Que
tens?, diz-lhe a mãe sobressaltada;
Não
pôde ela encobrir na mão ...;
sufocada
ficou, a mãe corada;
Finda
a partida, e mais do que medonha
A
noite começou à bofetada».
[…]
In
Bocage, Poesia, Eróticas, Satíricas e Burlescas, Projecto Livro Livre, livro
270, Poeteiro Editor Digital, Iba Mendes, 2014.
Cortesia de
IMendes/JDACT