Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…)
João I e dona Filipa tiveram oito filhos, dos quais dois faleceram. Dos seis
infantes, apenas dois não casaram, Henrique e Fernando, mesmo tendo existido
oportunidades nesse sentido. O primeiro a casar-se foi o penúltimo filho, o
infante João, em Novembro de 1424, matrimónio que uniu o infante à sua
sobrinha, única filha do conde de Barcelos, dona Isabel. No entanto, tal
enlace, somado ao de Afonso com a filha do Condestável, representa uma
tendência secundária das uniões estabelecidas pelos filhos de João I, visto que
de oito filhos (legítimos e bastardos), quatro casaram fora de Portugal. A
partir das fontes acerca das negociações matrimoniais de Afonso, dona Beatriz e
do infante João, pode-se entrever que estas transacções não conheceram
delongas, sendo o casamento da infanta com o conde de Arundel o que mais se
protelou. A constatação reitera-se na observação das negociações que envolveram
os matrimónios de Duarte I, Pedro (o Regente) e dona Isabel, pois este segundo
conjunto de casamentos reafirma a tendência de que a procura de um marido ou de
uma esposa por um príncipe era um processo longo e complexo. O estabelecimento
de dois conjuntos de casamentos, sendo o primeiro representado por Afonso, dona
Beatriz e João, e o segundo por Duarte I, Pedro e dona Isabel, permite ainda
que se delimitem distinções entre as consequências de cada um dos grupos de
matrimónios para a dinastia de Avis. Acredita-se que ambos reforçaram os laços
avisinos dentro e fora de Portugal, contudo também reflectem momentos
diferentes do reinado de João I. Os primeiros ocorreram num período de busca de
afirmação e legitimação dinástica, para o
qual a aliança do rei com os Lancaster (1387) já tinha contribuído, com os
problemas internos apresentando-se como difíceis obstáculos, e o segundo
conjunto de consórcios deu-se num contexto de consolidação e ampliação
das alianças externas existentes até então.
Assim,
é importante notar que os quatro casamentos dos filhos legítimos de João I e
Filipa ocorreram nos anos de 1420. Chama ainda mais atenção o facto de três
casamentos terem ocorrido entre Setembro de 1428 e Janeiro de 1430. Destes, o
enlace do herdeiro (1428) foi investigado no citado estudo de Dias Dinis, no
qual se expõe a importância do matrimónio para as relações ibéricas do período.
O principal consórcio foi o de dona Isabel (1430) com o duque da Borgonha, que
consolidou a presença portuguesa no norte europeu. E o casamento de Pedro? Tal
como outros aspectos da vida do duque de Coimbra, o enlace mostra-se um
obscuro, porém crucial, momento na trajectória biográfica do viajante das Sete Partidas.
Portanto,
para finalizar as considerações sobre a política matrimonial de João I,
afirmamos que os casamentos dos anos de 1420 foram reflexo de uma nova etapa da
diplomacia portuguesa. A posição interna de Avis já estava estabilizada e a
aliança inglesa estruturada e reafirmada com o consórcio de Beatriz. A
conquista de Ceuta (1415) tinha permitido a construção de uma imagem do reino e
da dinastia reinante articulada com os valores cristãos e com a defesa da
Cristandade, elementos que favoreciam a honra da família real avisina no
cenário das casas principescas. Por fim, os casamentos do período demonstram o
esforço do reino de Portugal em consolidar-se no cenário político ibérico,
mormente através da aliança com Aragão e, ultrapassando este quadro diplomático
tradicional, enrijecer os laços com o mar do Norte, por meio do enlace com o
ducado de Borgonha.
A
fim de organizar a exposição sobre o enlace do Infante, orientaremos a
discussão de acordo com os seguintes tópicos: as anteriores propostas de
casamento; o momento do enlace, como etapa da vida de Pedro; a escolha da noiva,
dona Isabel de Urgel; o casamento e as suas consequências. As primeiras menções
sobre propostas de aliança matrimonial envolvendo o infante Pedro aparecem em
dois documentos do rei Martin de Aragão, datados de Aabril de 1410, no qual o
monarca expõe o interesse de casar a infanta dona Leonor de Urgel, ou com
Duarte ou com o Infante. Novas alusões surgem alguns anos depois, de acordo com
o texto da Crónica da Tomada de
Ceuta, ao descrever o envio dos embaixadores portugueses à Sicília.
Esta missão teve como pretexto tratar do matrimónio proposto pela rainha viúva,
dona Branca, com o infante Duarte, ou com Pedro. De acordo com Zurara, após
descartarem o avanço das negociações com o príncipe herdeiro, os enviados
portugueses afirmaram que João I via com prazer que o casamento da rainha se
concretizasse com o secundogénito. Contudo, ainda segundo o cronista, a rainha
ficou mui pouco contente com a posição da embaixada, visto que lhe parecia
que seu estado receberia abatimento, mandando ela, primeiramente, tratar
casamento com o infante Duarte, que era herdeiro do reino, e tornar a casar com
o infante Pedro que era sojeito a seu irmão por razão de sua primeira nascença».
In
Douglas Mota Xavier Lima, À volta do casamento do infante Pedro, UFOdoPará,
ICE, PCHumanas, Santarém, Brasil, Revista Medievalista, Nº 21, Janeiro-Junho
2017, Universidade Nova de Lisboa, FCS e Humanas, FC e Tecnologia, ISSN
1646-740X.
Cortesia da
RMedievalista/FCT/JDACT