quarta-feira, 29 de março de 2017

À volta do casamento do infante Pedro. Douglas Mota Xavier Lima. «Pedro aparece na “idade adulta” quando resolveu casar (trinta e seis anos), aliás, próximo da “maturidade”»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) A descrição cronística dessa missão diplomática é oscilante nas informações oferecidas, pois afirma ser o infante Pedro o noivo buscado pela rainha da Sicília, depois indica que Duarte era o objecto da negociação e que o Infante era uma proposta secundária no consórcio (a partir da crónica, é possível inferir que a proposta de envolver Pedro na negociação foi de João I, não da rainha da Sicília, como o próprio Zurara afirma no capítulo anterior, visto que o rei formou a embaixada como uma forma de dissimulação pois sabia os problemas implicados no estatuto do Infante, a qual cousa eu sei pelo requerimento que me ela enviou fazer que me prouvesse de casar meu filho o Infante dom Pedro, a qual cousa eu sei bem que certo ela não há-de fazer; empero a aproveitará muito semelhante cometimento porquanto meus embaixadores terão azo de ir e vir por acerca daquela cidade, Ceuta, onde poderão devisar todo o que lhe por mim for mandado), e finaliza com a menção do descontentamento da rainha perante a proposta de casamento com o secundogénito português (trata-se de dona Branca I de Navarra, esposa de Martin I, o Jovem, rei da Sícília e herdeiro de Aragão; após a morte deste, em 1410, Branca permaneceu à frente do reino da Sicília até 1415).
É possível inferir que alguma proposta de casamento possa ter surgido na cidade de Viena em inícios de 1426, visto que, de acordo com Albert Starzer, o baile oferecido ao Infante, na chamada casa de Praga, foi largamente concorrido pelas damas da cidade. Contudo, com a excepção desta inferência a partir do estudo de Domingos Maurício Santos, não há outra informação que envolva o tema do casamento durante a viagem. Sabe-se que os casamentos entre famílias régias eram, sobretudo, um acto político, comumente lento na condução das negociações, o que se dava em virtude das estratégias políticas das casas reais e das disponibilidades de noivos e noivas das mesmas. Tais dificuldades e frequentes mudanças de políticas matrimoniais possibilitavam vários casos de nobres que não contraíam casamento, sendo emblemático o exemplo do infante Henrique. Todavia, aos trinta e seis anos, Pedro casou-se.
Tal aspecto, a idade do Infante, chama a atenção e demanda uma reflexão pormenorizada, a qual não aparece valorizada na bibliografia que trata do casamento dos infantes avisinos. Perspectivas gerais sobre as idades na Europa do período, trazem a seguinte indicação:













Idades

Segundo este esquema, Pedro aparece na idade adulta quando resolveu casar (trinta e seis anos), aliás, próximo da maturidade. No entanto, para não fundamentar uma posição apenas em perspectivas genéricas, espacial e temporalmente, veja-se a seguinte consideração de Duarte acerca das idades:

Idades segundo Duarte I

Estes apontamentos foram feitos pelo próprio irmão de Pedro que, ao estabelecer esta teoria das idades, permite que a decisão do casamento seja redireccionada para o início da decadência da vida do homem. De qualquer forma, pelos elementos já levantados, mostra-se nítido que o matrimónio do duque de Coimbra foi decidido numa idade avançada da sua vida, facto que também ocorreu com Duarte I, que casou aos trinta e sete anos. Não obstante, antes de finalizar esta observação e a fim de oferecer ainda mais elementos que corroborem a posição tomada, recupera-se um novo levantamento sobre o tema, este feito por Armindo Sousa abordando a média de vida dos reis, rainhas e príncipes:


Idades e médias de vida (1300-1500)

In Douglas Mota Xavier Lima, À volta do casamento do infante Pedro, UFOdoPará, ICE, PCHumanas, Santarém, Brasil, Revista Medievalista, Nº 21, Janeiro-Junho 2017, Universidade Nova de Lisboa, FCS e Humanas, FC e Tecnologia, ISSN 1646-740X.

Cortesia da RMedievalista/FCT/JDACT