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«(…)
De modo algum, senhor. Está uma bonita noite de luar, e tão amena que é
preferível me afastar da sua lareira. Mas deve estar muito húmido e enlameado.
Espero que não apanhe um resfriado. Enlameado, senhor? Olhe os meus sapatos,
não têm nenhuma mancha. Bem, isso é surpreendente, pois choveu muito por aqui.
Caiu uma chuvada terrível durante meia hora, quando tomávamos o café da manhã.
Queria até que eles adiassem o casamento. A propósito, não lhes desejei
felicidades. Sei bastante bem o quanto vocês dois estão felizes, por isso não
me apressei em congratulá-los; mas espero que tudo tenha corrido razoavelmente
bem. Como todos se comportaram? Quem chorou mais? Ah! Pobre miss Taylor! Isso é
muito triste. Pobre mr. e miss Woodhouse, talvez, mas não posso dizer pobre miss
Taylor. Tenho grande estima pelo senhor e por Emma, mas quando é uma questão de
dependência ou independência... De qualquer forma, é melhor ter apenas uma
pessoa para agradar do que duas. Especialmente quando uma delas é uma criatura caprichosa e impertinente!, disse
Emma, brincando. Isso é o que o senhor quis dizer, eu sei... E o que certamente
diria se meu pai não estivesse aqui. Acho que é bem verdade, minha querida, de
facto..., disse mr. Woodhouse com um suspiro. Temo que às vezes eu seja
bastante caprichoso e impertinente. Meu querido pai! Não pode acreditar que eu
estivesse me referindo ao senhor,
ou imaginar que mr. Knightley se referisse ao senhor. Que ideia horrível! Não! Eu me referia a mim mesma. Mr.
Knightley adora encontrar defeitos em mim, o senhor sabe... De brincadeira. É
tudo brincadeira. Sempre dizemos o que pensamos um ao outro. Mr. Knightley, de
facto, era uma das poucas pessoas que podia encontrar defeitos em Emma
Woodhouse, e a única que sempre os apontava para ela. Embora isso não fosse particularmente
agradável para Emma, seria muito pior para seu pai; ele jamais imaginaria que ela
não fosse perfeita para todos. Emma sabe que nunca a lisonjeio, disse mr.
Knightley, mas não estendo isso aos outros. Miss Taylor estava acostumada a ter
duas pessoas para agradar, agora só terá uma. As chances são de que ela saia
ganhando. Bem, disse Emma, desejando mudar de assunto, o senhor queria ouvir
sobre o casamento e ficarei feliz de lhe contar, pois todos nos comportamos de
forma encantadora. Todas as pessoas foram pontuais, todas vestindo os seus
melhores trajes, nem uma lágrima, e apenas uma ou outra cara triste. Ah, não!
Todos sabemos que estamos a apenas oitocentos metros de distância, e certos de
que vamos-nos ver todos os dias. A minha querida Emma suporta tudo tão bem,
disse o pai. Mas saiba, mr. Knightley, que ela está de facto muito pesarosa de
perder a pobre miss Taylor, e tenho certeza que vai sentir a falta dela mais do que imagina. Emma virou o
rosto, dividida entre lágrimas e sorrisos. É impossível que Emma não sinta a
falta de tal companheira, disse Mr. Knightley.
Não
gostaríamos tanto dela como gostamos se isso fosse possível, senhor. Mas ela
sabe quanto o casamento é vantajoso para miss Taylor, sabe que é
perfeitamente aceitável que, a esta altura da vida, miss Taylor tenha a sua
própria casa, e o quanto é importante a garantia de uma vida confortável com o
marido. Portanto, só pode permitir-se sentir alegria por ela e não tristeza.
Todos os amigos de miss Taylor devem estar felizes de vê-la tão bem casada. E o
senhor esqueceu-se de outro motivo de alegria para mim, disse Emma, e muito importante:
eu mesma planeei o casamento. Comecei a planeá-lo, o senhor sabe, há quatro
anos. E conseguir que essa união acontecesse, provando que eu estava certa,
quando todos diziam que mr. Weston jamais se casaria de novo, me consola de
qualquer coisa. Mr. Knightley sacudiu a cabeça. O seu pai replicou afectuosamente:
bem, minha querida, gostaria que não fizesse mais casamentos nem prognósticos,
pois tudo que a menina diz sempre acaba por acontecer. Por favor, não faça mais
casamento algum. Prometo não fazer nenhum para mim mesma, pai, mas devo fazer
para os outros, de verdade. É a coisa mais divertida do mundo. E depois deste
sucesso, então! Todos diziam que mr. Weston nunca mais se casaria. Ah, não!
Estava viúvo há tanto tempo e parecia perfeitamente bem sem uma esposa, sempre
ocupado com os seus negócios na cidade, ou aqui entre seus amigos, sempre
benquisto em todos os lugares, sempre alegre... Mr. Weston não precisaria
passar mais uma noite sequer sozinho se não gostasse disso. Ah, não! Mr. Weston
com certeza jamais voltaria a se casar». In Jane Austen, Emma, 1815/1816, Relógio de
Água, 2016, ISBN 978-989-641-622-5.
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