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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Carta de Pêro Vaz de Caminha a el-rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil. «Documento extraordinário, o relatório final dos primeiros contactos dos portugueses com um continente novo, uma humanidade nova. O lugar de honra em toda a obra de Caminha e nunca, nem antes nem depois, dela se falou em termos tão comoventes»


Cortesia de carreiradaindia e livroantigo

Estudo Introdutório de Maria Paula Caetano e Neves Águas
O Renascimento
«Conhecido pelo «longo século XVI» (1450-1560), o Renascimento vai confrontar clérigos e parte da alta sociedade europeia com uma nova visão do mundo [proporcionada pelos grandes descobrimentos, imprensa, (re)descobrimento da antiguidade pagã e cristã]. Neste contexto, a Itália vai desempenhar um papel de vanguarda, ao colocar-se em contacto com viários saberes conservados na heranças medievais, o que permitirá a promoção do Ocidente numa época em que a Europa se distancia decisivamente das civilizações paralelas, ultrapassando a Antiguidade e renovando as técnicas (Delumeau).
O Renascimento será assim, e antes de mais, um acontecimento cultural, uma nova visão da vida e da realidade, influenciando a arte, as letras, as ciências e os costumes. Assim, e em diferentes campos, a viagem de Colombo representa o esforço e audácia no descobrimento de novos mundos. Por outro lado, a acção de Martinho Lutero, como expoente máximo da Reforma, é um marco importante na renovação espiritual. Ambos constituem acontecimentos capitais que irão caracterizar este período da história de Humanidade.

Os Estados modernos
No século XVI vai-se assistir ao emergir dos Estados modernos. Serão estes que possuirão as características próprias que vincularão todo o sistema económico. Surgirá um sistema europeu de Estados, oposto à ideia medieval de um Estado universal, encarnada no Sacro Império Romano, cuja esfera de poder se estendia através da Europa Central e penetrava na Itália pelos Alpes. E será a ideia da «razão de Estado», defendida por Maquiavel na sua obra “O Príncipe”, que irá constituir o conceito sobre o qual os príncipes tentarão nos séculos posteriores edificar os seus sistemas políticos.
Naturalmente, seria grande a diferença entre o Estado absoluto do século XVI e os dos séculos XVII ou XVIII. No primeiro, a forma de governo dependia da capacidade da casa reinante em se opor à pressão dos grupos sociais dominantes. Havia sempre o perigo de que os assuntos que diziam respeito a todos os súbditos se transformassem em questões de prestígio e de poder. Nos Estados em que prevalecia o princípio oligárquico de governo (como as repúblicas aristocráticas de Génova e Veneza e, sobretudo, a República dos Países Baixos) tudo se passava diferentemente. Aqui, o comércio e a navegação eram essenciais para a sobrevivência do Estado, pelo que os círculos economicamente activos adquiriram grande influência e a mobilidade social teve grande importância para o desenvolvimento económico.

Cortesia de 1500brasil

O capitalismo
O período compreendido entre os finais dos séculos XV e XVIII é geralmente classificado como «capitalismo comercial», em que o capital desempenha um papel motor da expansão económica.
Este capital actuou no sector comercial, onde conseguiu os melhores resultados quando os descobrimentos ultramarinos lhe abriram novos mercados. O comércio colonial foi a base do enriquecimento geral e nele assentou o progresso económico da época. Tornou possível também a acumulação de capitais, que se iriam investir, no momento oportuno, na expansão industrial. Do mesmo modo se verifica um maior incremento na circulação de metais preciosos, paralelamente com a actuação das tropas. Todos estes factores lançaram as bases dos novos períodos, essencialmente financeiros.
A expansão ultramarina
A concentração do poder político nas mãos do monarca, apoiado na burguesia mercantil e nos exércitos, quer nacionais, quer mercenários, levou à unidade nacional e, com ela, à implantação do Estado sólido, dirigente da vida económica (nomeadamente através do fisco). Surge então, como o acontecimento mais importante do século XVI, a expansão ultramarina, em consequência dos Descobrimentos e das navegações. As rotas atlânticas pare as Índias e a passagem do Mediterrâneo para uma situação subalterna na estratégia económica europeia para com os restantes continentes marcaram grandemente esta época.
E, assim, uma ruptura e um começo o que caracteriza a Europa nos séculos XIV e XV. Uma ruptura com a economia contraída, em regressão (baixa de preços, dificuldades comerciais e agrícolas), e também com o declínio da população. Em meados do século XV verificam-se certas inovações e descobertas que irão ser aproveitadas economicamente e que projectarão uma estrutura nova, onde uma organização do espaço, à escala do globo, iria servir os fins de uma economia mercantilista (Vitorino Magalhães Godinho).
A tipografia, com diferentes condições culturais e constituindo uma nova indústria e um novo comércio; um novo processo de extracção da prata, muito mais eficiente; a utilização industrial do cobre e do bronze em larga escala, lançando algumas indústrias pesadas, como a artilharia, que será um dos grandes motores da economia moderna; a construção naval, ligada à grande expansão das florestas, que se deu na Europa durante o período da regressão demográfica dos séculos XIV e XV...; enfim, é todo um conjunto de transformações que leva, com a escassez da moeda, à busca do ouro, à captura de escravos para mão-de-obra e ao descobrimento de novas rotas, de novos mercados, de novos centros de abastecimento, e, consequentemente, a nova organização do espaço». In Carta de Pêro Vaz de Caminha a el-rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil, Estudo Introdutório de Maria Paula Caetano e Neves Águas, Publicações Europa-América, 1987.

Cortesia P. Europa-América/JDACT

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pêro Vaz de Caminha: A «certidão de nascimento» do Brasil

achetudoeregiao
(1450-1500
Pero Vaz de Caminha ou Pedro Vaz de Caminha, foi um escritor português que se notabilizou nas funções de escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral.
Letrado, Pero Vaz foi cavaleiro das casas de D. Afonso V (1438-1481), de D. João II (1481-1495) e de D. Manuel I (1495-1521). Pai e filho, para melhor desempenhar seus cargos, precisavam exercitar a prática e desenvolver o conhecimento da escrita, distinguindo-se a serviço dos monarcas.
Em 1500, foi nomeado escrivão da feitoria a ser erguida em Calecute, na Índia, razão pela qual se encontrava na nau capitânia da armada de Pedro Álvares Cabral em Abril daquele mesmo ano, quando a mesma descobriu o Brasil. Caminha eternizou-se como o autor da carta, datada de 1 de Maio de 1500, ao soberano, (datada de Porto Seguro, foi levada a Lisboa por Gaspar de Lemos, comandante do navio de mantimentos da frota) um dos três únicos testemunhos desse achamento (os outros dois são a Relação do Piloto Anónimo e a Carta do Mestre João Faras).

mardeletras
Mais conhecido de entre os três, a Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada a certidão de nascimento do Brasil embora, dado o segredo com que Portugal sempre envolveu relatos sobre sua descoberta, só fosse publicada no século XIX, pelo Padre Manuel Aires de Casal em sua «Corografia Brasílica», Imprensa Régia, Rio de Janeiro, 1817. O texto de Mestre João demoraria mais ainda: veio à luz em 1843 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e isso graças aos esforços do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen.
Pêro Vaz de Caminha morreu (segundo a literatura...)  em combate durante um ataque muçulmano à feitoria de Calecute, em construção, no final de 1500.

carreiradaindia
Em 2005 este documento foi inscrito no Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
«Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo». In Wikipédia

(A carta a D. Manuel) (Caminha e Sparke) (História ou Ficção) (A Descoberta do Outro)
José Augusto Seabra/Maria Martins das Neves/Maria Neto Simões/Projecto Vercial/JDACT