Cortesia
de wikipedia e jdact
Jerusalém
«(…)
Talvez porque a jovialidade tivesse voltado ao tom de Mahmoud e ela se sentisse
menos pressionada ou talvez fosse a atracção pelo padrão antigo e inexplicado.
Alguma coisa, no entanto, fez com que Maureen enfiasse o disco de cobre no dedo
anular direito. Coube perfeitamente. Mahmoud balançou a cabeça, sério de novo,
quase sussurrando para si mesmo: como se tivesse sido feito para a senhora. Maureen
ergueu o anel para a luz, olhando para a mão. Não consigo desviar os olhos. Isso
acontece porque deve ficar com o anel. Maureen fitou-o, desconfiada, sentindo a
iminência de uma oferta de venda. Mahmoud tinha mais classe que os vendedores
das ruas, mas, de qualquer forma, era um mercador. Pensei que houvesse dito que
não está à venda. Ela fez menção de tirar o anel, ao que Mahmoud protestou com veemência,
erguendo as mãos. Não. Por favor. Está bem. É neste ponto que começamos a
negociar, não é mesmo? Quanto? Mahmoud pareceu ofendido por um momento, antes
de responder: não está entendendo. Esse anel me foi confiado até que encontrasse
a mão certa. A mão para a qual foi feito. Descubro agora que é a sua mão. Não
posso vendê-lo à senhora porque já é seu. Maureen olhou para o anel, depois
para Mahmoud, perplexa: eu é que não entendo. Mahmoud ofereceu um sorriso
solene. Encaminhou-se para a porta da frente da loja. Não pode entender. Mas um
dia vai compreender. Por enquanto, apenas fique com o anel. É um presente. Eu
não poderia... Pode e ficará. Deve ficar. Se não o fizer, eu terei fracassado.
E não vai querer esse peso na consciência, é claro.
Maureen
sacudiu a cabeça, cada vez mais aturdida, enquanto o seguia até à porta. Parou
ali. Não sei o que dizer ou como agradecer. Não precisa. Mas tem de ir agora.
Os mistérios de Jerusalém estão à sua espera. Mahmoud segurou a porta aberta.
Maureen saiu e agradeceu de novo. Adeus, Madona..., sussurrou Mahmoud, enquanto
ela se afastava. Maureen parou no mesmo instante. Virou-se: desculpe, mas o que
foi mesmo que disse? Mahmoud tornou a exibir um sorriso enigmático. Eu disse
adeus, minha cara. Ele
acenou em despedida. Maureen retribuiu o gesto e tornou a se afastar, ao sol
forte do Médio Oriente. Maureen voltou à Via Dolorosa, onde encontrou a Oitava
Estação, exactamente como Mahmoud indicara. Mas estava inquieta e incapaz de se
concentrar, sentia-se estranha depois do encontro com Mahmoud. Ao continuar no
seu caminho, a sensação de vertigem que já experimentara antes voltou, desta
vez mais forte, a ponto de desorientá-la. Era o seu primeiro dia em Jerusalém e
com certeza sofria do cansaço da viagem e da alteração dos fusos horários. O voo
em que chegara de Los Angeles na noite anterior fora longo e cansativo e ela
quase não dormira. Fosse uma combinação de calor, exaustão e fome ou alguma
coisa mais inexplicável, o que aconteceu em seguida estava completamente fora
do território da experiência de Maureen. Ao encontrar um banco de pedra, ela se
sentou para descansar um pouco. Balançou com outra onda de vertigem inesperada,
enquanto um clarão ofuscante emanava do sol implacável, transportando os seus pensamentos.
Foi
lançada abruptamente no meio de uma multidão. O caos reinava ao seu redor.
Havia muitos gritos e empurrões, uma intensa comoção por todos os lados.
Maureen conservava o suficiente da mentalidade moderna para perceber que as
pessoas enxameando ao seu redor vestiam roupas feitas em tear manual. Muitas
estavam descalças, enquanto outras usavam uma versão tosca de sandália, como
ela notou quando alguém pisou o seu pé. Quase todos eram homens, barbudos e sujos.
O sol omnipresente do início da tarde castigava-os, misturando suor com poeira
nos rostos furiosos e aflitos ao seu redor. Ela estava na beira de uma rua
estreita. A multidão à frente começava a empurrar, com um vigor crescente. Uma
brecha natural surgiu, com um pequeno grupo avançando lentamente pelo caminho.
A multidão parecia seguir esse grupo. Quando a massa em movimento chegou mais
perto, Maureen viu a mulher pela primeira vez». In Kathleen McGowan, O Segredo do
Anel, Editora Rocco, 2006, ISBN 853-252-096-0.
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