jdact e wikipedia
Jamaica 1504
«(…) Ele sabia que esta seria sua última
vez no Novo Mundo. Tinha 51 anos e conseguira reunir um número surpreendente de
inimigos. Sua experiência no ano anterior era prova de que esta quarta viagem
estava amaldiçoada desde o começo. Primeiro, explorara a costa do que passara a
acreditar ser um continente, cujo litoral infinito se estendia de norte a sul
até onde ele navegou. Após concluir essa patrulha, esperara desembarcar em Cuba
ou Hispaniola, mas os seus navios corroídos por vermes só conseguiram chegar
até à Jamaica, onde ele os ancorou e aguardou um resgate. Que não chegou. O
governador de Hispaniola, um inimigo jurado, resolveu abandonar Colombo e os seus
113 homens à morte. Mas ela não chegou. Em vez disso, algumas almas corajosas
remaram numa canoa até Hispaniola e trouxeram um navio. Sim, ele realmente
tinha muitos inimigos. Eles negaram todos os direitos que Colombo um dia tivera
segundo as Capitulações. Ele conseguira manter o seu status de nobre e o
título de Almirante do Oceano, mas isso não significava nada. Os colonos
de Hispaniola se revoltaram e o forçaram a assinar um acordo humilhante. Há
quatro terríveis anos, ele foi levado de volta para a Espanha, acorrentado e
ameaçado de ser julgado e preso. Mas o rei e a rainha lhe concederam um
inesperado indulto e lhe deram fundos e permissão para a quarta viagem. Ele se questionara sobre a motivação
deles. Isabel parecia sincera. Ela tinha uma alma aventureira. Mas o rei era
outro assunto. Fernando nunca gostara dele, dizendo abertamente que a viagem a
oeste lhe parecia uma estupidez. Claro, isso foi antes de Colombo ser
bem-sucedido. Agora, Fernando só queria ouro e prata. Putos. Mentirosos. Todos
eles. Acenou para que abaixassem as arcas. Os seus três homens ajudaram, pois
eram pesadas. Chegamos, gritou ele em espanhol. Seus acompanhantes sabiam o que
fazer. Espadas foram empunhadas e os nativos, rapidamente cortados em pedaços.
Dois gemeram no chão, mas foram silenciados com floretes enfiados no peito.
Essas mortes não significavam nada para Colombo; eles não eram dignos de
respirar o mesmo ar que os europeus. Pequenos, de pele marrom, nus como no dia
em que nasceram, não possuíam linguagem escrita nem crenças fervorosas. Moravam em aldeias no litoral e, pelo que
percebera, apenas cultivavam algumas plantas. Eram liderados por um homem
chamado cacique, com quem Colombo fizera amizade durante o ano em que ficara
abandonado. Foi o cacique quem lhe ofereceu seis homens ontem, quando ele
ancorou para a sua jornada final no litoral norte. Uma caminhada simples até as montanhas, dissera ele para o cacique. Só
alguns dias. Ele conhecia o suficiente da língua aruaque para
fazer o pedido. O cacique demonstrou que tinha entendido e concordou, apontando
para seis homens que carregariam as arcas. Ele fizera uma reverência em
agradecimento e oferecera vários guizos como presentes. Graças a Deus trouxera
muitos. Na Europa, eles eram amarrados às garras de pássaros treinados. Sem
valor. Aqui, eram uma moeda valiosa. O cacique aceitou o pagamento e fez uma reverência
também. Já negociara com esse líder outras duas
vezes. Tinham criado uma amizade. Um acordo do qual ele se beneficiava
totalmente. Quando visitaram a ilha pela primeira vez em 1494, fazendo uma paragem
de um dia para vedar vazamentos no seu barco e repor o estoque de água, seus
homens notaram pequenas partículas de ouro nas águas claras dos rios. Ao
questionar o cacique, Colombo ficou sabendo de um lugar em que os grãos de ouro
eram ainda maiores, alguns com o tamanho de feijões. O lugar onde ele estava
agora. Mas, diferente da monarquia espanhola fraudulenta, o ouro não o
interessava. Seu objectivo era maior». In Steve Berry, A Conspiração Colombo, 2012,
Maria B. Medina, Editora Record, 2014, ISBN 978-850-140-380-3.
Cortesia de
ERecord/JDACT