A fina-flor do reino de Dinis I
«(…) Mal subiu ao trono, após a morte do monarca Dinis I, a 7 de
Janeiro de 1325, Afonso IV
convocou as cortes para que o recebessem
como rei e senhor e lhe prestassem menagem. Logo a seguir, tratou de perseguir
o meio-irmão, exilado em Castela, não obstante ele ter reconhecido a sua realeza.
Acusou-o de traição, confiscou-lhe os bens e condenou-o a desterro perpétuo.
Afonso Sanches protestou mas em vão. E, não sendo ouvido, resolveu agir. Pegou em armas, reuniu forças de Castela e
invadiu Portugal, espalhando a lei do ferro e do fogo nas terras de
fronteira, desde Trás-os-Montes até ao Alentejo. Afonso IV retribuiu na mesma
moeda, visando em especial Albuquerque, que era onde o adversário tinha sede e principais apoios. A contenda durou
três anos e só terminou porque Afonso Sanches adoeceu. Negociou-se então a paz,
tendo o bastardo querido de Dinis I obtido a restituição de todos os bens que
lhe tinham sido confiscados. Assim que lhe foram devolvidos, morreu,
sendo enterrado no Convento de Santa Clara, que fundara em Vila do
Conde, de que era senhor. Deixou um filho, João Afonso Albuquerque, o do
Ataúde, 6.º senhor de Albuquerque, que foi mordomo-mor do rei Pedro I e deixou
numerosa descendência, legítima e ilegítima.
Já então Afonso IV, cognominado o
Bravo, menos por ser corajoso do que por ser violento, tinha mandado matar
outro dos seus irmãos bastardos, João Afonso, que fora, também ele,
mordomo-mor de Dinis I e, depois, seu alferes-mor. Acusado de traição por se
ter conluiado com Afonso Sanches nosso
inimigo, João Afonso fora condenado à morte por uma sentença de 4 de
Julho de 1326, em que Afonso IV
se declarava muito pesaroso por ter de castigar um homem que se chama filho de el-rei Dinis, nosso padre.
Senhor da Lousã, João Afonso deixara viúva dona Joana Ponce Leon
(bisneta de Afonso IX, rei de Leão e Castela), que lhe dera uma filha: dona Urraca
Afonso, mulher de Álvaro Perez Guzman, senhor de Manzanedo. Mas deixara também
uma bastarda, dona Leonor Afonso, que casou com Gonçalo Martins Portocarreiro. Quanto
a Pedro
Afonso, conde de Barcelos, afastou-se da corte de seu irmão e foi viver
para os seus paços de Lalim, na companhia de dona Teresa Anes Toledo, sua amásia
(e não, como alguns disseram, sua terceira mulher). Foi aí que coligiu trovas e
cantigas, compôs o interminável Livro de Linhagens e redigiu a Crónica
Geral de Espanha de 1344.
Em 1347, tinha-se definitivamente
separado de sua segunda mulher, dona Maria Ximenez Coronel, com quem, aliás,
quase não coabitara. Com efeito, desde o seu casamento, marido e mulher tinham
quase sempre vivido apartados um do outro. No ano em que se consumou a ruptura,
o conde doou à condessa todos os bens que o casal possuía em Aragão, enquanto a
condessa lhe doava a ele todos os bens que o casal tinha em Portugal e no
Algarve. Figura central no panorama político e cultural português da primeira
metade do século XIV (como o marquês de Castelo Melhor o descreve), Pedro
Afonso morreu entre 2 de Fevereiro e 5
de Julho de 1354, sendo
sepultado no Mosteiro de S. João de Tarouca». In Isabel Lencastre, Bastardos
Reais, Os Filhos Ilegítimos dos Reis de Portugal, Oficina do Livro, 2012, ISBN
978-989-555-845-2.
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