Três Irmãs na Corte de Leão (1086-1094
S.
Pedro de Montes, Bierzo, Abril de 1086
«Teresa pareceu ler-lhe os
pensamentos, e repetiu-lhe o que Ximena tantas vezes lhes dizia: Levanta a
cabeça quando andas. És filha do imperador das Espanhas e da senhora do Bierzo.
Nunca te esqueças disso. Atravessaram o arco no muro da horta do Mosteiro de S.
Pedro de Montes e entraram pela porta de acesso às cozinhas, uma porta pesada
de madeira que rodava com ruído nos gonzos, sempre aberta para que os irmãos
menores pudessem ir deitar os restos aos porcos e às galinhas, e aos pobres...
A correr em bicos de pés,
procurando não dar nas vistas, as irmãs subiram à torre alta, do lado esquerdo
da igreja, onde a senhora do Bierzo se hospedava em S. Pedro de Montes. A ama recebeu-as
aos gritos, agarrando Teresa pela gola da capa e abanando-a furiosa: Não vos tinha
dito que hoje não havia saídas? E dona Teresa, o que faz outra vez com essa
espada, não sabe que só a pode usar durante as lições?
As infantas nem tentaram
protestar, deixando-se enfiar na tina de água morna, onde a criada as lavou com
sabão de azeite e cinzas, até quase lhes arrancar a pele. Menina Teresa, deixe
essas mãos de molho, ouviu? Olhe para essas unhas?! Teresa, com os olhos a
arder do sabão, ainda respigou. A ama inspirou fundo. Não podia dizer que não
sabia a quem a infanta saía, tanto o pai como a mãe só faziam o que queriam. Teresa,
com o corpo esguio, a pele imaculada, os olhos verdes realçados por pestanas
longas, não demoraria muito a saber usar a beleza a seu favor. A determinação
faria o resto. E se estivesse caladinha e fizesse como a sua irmã, que já está vestida
e pronta?
Elvira deixava que a criada lhe
deitasse umas pingas de limão no cabelo para o tornar mais sedoso e fácil de
pentear. Vestida com uma camisa de linho, coberta por uma túnica de burel, presa
acima do ombro direito por um alfinete de pedras preciosas, os sapatos de bico
de um couro de cordeiro fino, estava linda. Teresa lançou-lhe um olhar misto de
inveja e orgulho. Ama, achas que o meu pai vai gostar mais dela?, perguntou, baixando
a voz. A ama enrolou-a na toalha para a secar, beijando-a de fugida. Aquela sua
menina era sol e lua, trovão e brisa. Afagou-lhe os cabelos com ternura, se a
soubessem levar seria leal até à morte.
Teresa e Elvira, desçam com
cuidado, sem tropeçar, recomendou uma das damas da mãe. Elvira suspirou
impaciente. Porque diziam sempre Teresa e Elvira, e não Elvira e Teresa? Não
valia de nada ter nascido um ano antes, ser a primogénita de Afonso VI, se a
deixavam sempre para segundo lugar, ou para terceiro, se contasse com a irmã Urraca...
Os cânticos dos frades nas
vésperas ecoavam nas paredes de pedra do mosteiro a gratidão pelos dons
recebidos nesse dia agora que o Sol dava lugar ao brilho de Vénus, neste
mosteiro escondido na serra mas que, nos últimos anos, crescera ao ponto de se tornar
num dos mais importantes do Bierzo». In Isabel Stilwell, Dona Teresa, Livros
Horizonte, 2021, ISBN 978-972-242-003-7
Cortesia de LHorizonte/JDACT
JDACT, Isabel Stilwell, História, Conhecimento, Literatura, O Saber,