Cortesia de arquivodaudecoimbra
“Licença a Gonçalo Lourenço para fazer fabricas no termo de Leiria”
«[…]
e cada huü delles que lhe prouver e entender por sua prol e que os aia e logre pera todo sempre el e todos seus herdeiros e descendentes que depos el vierem e que o dito gonçalo lourenço e os que depos el vierem dë a nos e aos reis que depois nos vierem ho oytavo do que elles renderem em salvo os ditos arteficios e engenhos que assy fezer nos ditos asentamentos de moynhos e levadas delles e mais nom, nom embargando que no foro da dita villa diga e faça mençam que de todas moendas que se fizerem na dita villa e termo o rey aia ametade nem outra qualquer cousa que esto possa contradizer ou embargar per qualquer guisa e maneira que seia por quanto nos queremos que nom aiam em esto lugar nem lhe possam empecer por quanto nos entendemos esto por nosso serviço […] ao scripvam do dito almoxarifado que registe esta carta em seus livros e aos nossos contadores que os recebam em conta e em despesa ao dito almoxarife umde huüs e os outros all nom façades e em testº desto lhe mandamos dar esta nossa carta dante em evora xxjx (29) dias dabril elrey o mandou Rodrigo Afomso a fez era de mil iiij R jx (1449).
NOTA: Trata-se de (após a respectiva deducação de datas) de 29 de Abril de 1411, altura em que reinava em Portugal D. João I.
Até prova em contrário somos levados a crer que a primeira obra em caracteres hebraicos em Portugal, é o “Pentateuco” (editado em Faro, como referimos, em Junho de 1487). Quer para essa quer para outras edições até hoje desconhecidas, se porventura as houve, e produzidas nas principais tipografias hebraicas portuguesas, existentes em Faro, Lisboa e Leiria, o fornecimento de papel ficou a dever-se a fábricas de papel como a do moinho ou engenho de Leiria. Isso porque, neste período, não chegou até nós, o testemunho documentado da existência de outras «fábricas» congéneres.
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Da difusão da bibliografia de inspiração judaica (e cristã) neste período
Das razões desse apego judaico à arte tipográfica, designadamente em Portugal, contava-se a preservação, em documentos escritos, da lei do Talmud, de forma a que a palavra dos antigos sábios pudesse, ininterruptamente, ser transmitida de pais para filhos ao longo de sucessivas gerações.
Os nomes que importa reter neste campo, no que respeita às primícias da arte de impressão em caracteres hebraicos executados por judeus portugueses no exílio ou em Portugal, são os dos judeus Moses B. Shem Tob Ibn Habib e de Samuel Gascon. Ambos viveram em Portugal no último quartel do século XV, tomando, as suas vidas, a partir de uma dada altura, rumos diferentes dos da sua família espiritual do Algarve.
Moses Ibn Habìb foi um poeta hebreu, filósofo, tradutor e gramático que nasceu no século XV em Lisboa, em data que não se torna possível precisar. Este autor terá vivido, (Posnanski), durante algum tempo no Levante. Esteve no sul de Itália, designadamente em Nápoles, vindo a morrer nos começos do século XVI.
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Foi precisamente na cidade italiana de Nápoles que circulou em 1484 a sua gramática «Perah shoshan», preparada nesse ano e sobre a qual ainda não há muito trabalhámos no «British Museum» de Londres. Este trabalho, dividido em sete secções, cada uma dividida num número de capítulos, foi iniciada em 23 de Sivan A.M. 5244, no calendário hebraico (16 de Junho de 1484) e terminada em 27 Kislev A.M. 5245 (15 de Dezembro do mesmo ano).
Quanto ao outro judeu português atrás referenciado, Samuel Gascon, este nome já se situa, com mais precisão, nos primórdios da arte tipográfica portuguesa, em território nacional. Samuel Gascon, cuja data de nascimento também não conhecemos, não teve de optar pela via do exílio.
NOTA: No campo de autores judaico-portugueses que se auto-exilaram neste período, conta-se David Bem Solomon que nasceu em Lisboa em 1440. Autor de uma gramática, “Leshon Linundim”.
Sabe-se, apenas, que no ano de 1487 vivia em Faro. Foi precisamente nessa cidade que, em 30 de Junho desse mesmo ano, três anos depois de Ibn Habib ter feito divulgar em Nápoles a sua gramática, concluiu a edição de ”O Pentatenco”, que Pina Martins considera “a primeira obra impressa em Portugal em caracteres hebraicos”». In Manuel Cadafaz Matos, Para uma História da Imprensa e da Censura em Portugal nos Séculos XIV a XVI, Publicação do Arquivo da Universidade de Coimbra 1986.
Continua
Cortesia do Arquivo da Universidade de Coimbra/JDACT