Cortesia de historiadeportugal
Quando eu sonhava
Quando eu sonhava, era assim
que nos meus sonhos a via;
e era assim que me fugia,
apenaseu despertava,
essa imagem fugidia
que nunca pude alcançar.
Agora, que estou desperto,
agora a vejo fixar...
Para quê? - Quando era vaga,
uma ideia, um pensamento,
um raio de estrela incerto
no imenso firmamento,
uma quimera, um vão sonho,
eu sonhava - mas vivia:
Prazer não sabia o que era,
mas dor, não na conhecia...
Este inferno de amar
Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
que é a vida - e que a vida destrói
como é que se veio a atear,
quando - ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
a outra vida que dantes vivi
era um sonho talvez... - foi um sonho -
em que paz tão serena a dormi!
Oh!, que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! Despertar?
Só me lembra que um dia formoso
eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? - Não no sei;
mas nessa hora a viver comecei...
Poemas de Almeida Garrett, in «Folhas Caídas»
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