Cortesia de virgiliosolanowordpress
Porquê “Terra de Mistérios”?
«Fedro, reitera:
- "Iniciados nos mais sagrados de todos os mistérios, purificando-nos (...) tornamo-nos justos e santos com sabedoria".
Segundo Téon de Esmirna, a filosofia (amor à Sophia) para Platão é:
- "a iniciação nos arcanos verdadeiros e o aprendizado nos mistérios autênticos. Esta iniciação divide-se em cinco partes: I, purificação prévia; II, a admissão à participação nos ritos arcanos; III, a revelação epóptica; IV a investidura ou entronização; e V, a quinta, consequência de todas estas, é a amizade e a comunhão com Deus, e o prazer da felicidade que provém da íntima relação com os seres divinos.(...) Platão denomina epopteia, ou visão pessoal, a perfeita contemplação das coisas que são percebidas intuitivamente, as verdades e ideias absolutas”.
Na verdade, como afirmou Warbuton, "Os homens mais sábios e melhores do mundo pagão são unânimes em dizer que os Mistérios se propunham aos fins mais nobres pelos meios mais louváveis". Cícero confirma-o: "nada supera estes mistérios que da grosseria e rudeza transportam nossa conduta à amabilidade, benevolência e ternura”. Já na era moderna, Voltaire também admitiu os seus benefícios morais e civilizadores: "No meio do caos das superstições populares, existiu uma instituição que impediu sempre o Homem de cair na brutalidade absoluta; foi a dos mistérios”.
Cortesia de nebulosadosabe
Com a agonia do mundo clássico, as escolas de mistérios foram-se tornando necessariamente mais elitistas, pois não podiam facilitar a admissão dos candidatos, o que originou o alastramento da superstição pagã, ou seja, as formas exotéricas separaram-se dos conteúdos esotéricos. No geral, foi-se perdendo o significado oculto dos cultos externos. Por exemplo, a designação de deuses pode ter vários significados. Madame Blavatsky, referindo-se aos deuses pagãos, sustentou:
- "o termo «deuses» é erroneamente entendido pela maior parte dos leitores como sinónimo de ídolos. A ideia a eles relacionada “não” é a de algo objectivo ou antropomorfo. Com excepção das ocasiões em que a palavra deuses se aplica às entidades (anjos) planetárias divinas, ou aos espíritos desencarnados dos homens puros, o termo simplesmente traz à mente do místico - seja ele o hotri hindu, o mago masdeu, o hierofante egípcio ou o discípulo dos filósofos gregos - a ideia de uma manifestação visível ou reconhecível de uma potência invisível da Natureza. E tais potências ocultas são invocadas sob o nome de vários deuses, que, por um momento, personificam esses poderes. Assim todas as inumeráveis divindades dos panteões hindu, grego ou egípcio são simplesmente “Poderes do Universo Invisível”.
Fernando Pessoa mostrou compreender este conceito quando disse: "na eterna mentira de todos os deuses, só os deuses todos são verdade”.
O filósofo Jorge Livraga, ao referir-se aos mistérios no antigo Egipto, levanta alguma luz sobre este tema e as longínquas iniciações na velha Terra de Khem: "Todos os Deuses antigos representam basicamente elementos da Natureza, tanto material, como psicológica e espiritual; Osíris, no seu caso, representa fundamentalmente o poder que tem cada homem de 'osirificar-se', quer dizer, poder chegar a ser um super-homem. A iniciação, no essencial, não é mais do que um processo acelerado de evolução. De forma mais clara, segundo a doutrina egípcia, o homem necessita de certo número de encarnações para alcançar o “Amenti” [o paraíso dos egípcios], a perfeição suprema [o nirvana], e aí permanecer. (…) Fazia-se o iniciado ou o aspirante deitar-se num desses sarcófagos, vendava-se-lhe os olhos, e dormia um sono hipnótico de sete dias.
De seguida despertava, para depois voltar a 'dormir', e assim sucessivamente. É como se fosse vivendo várias encarnações. Ele conhecia a vida e a morte, sabia o que era entrar e sair do corpo, encontrava-se face a face com os Deuses e face a face com os homens. [A iniciação] é uma concentração de tempo, uma concentração da dimensão tempo. Não sei se sabeis que, hoje em dia, ainda existem alguns homens na Índia que podem fazer crescer em muito pouco tempo uma cana de bambu ou uma flor de lótus. Os viajantes crêem que isto é artificial e contra-natura.
Cortesia de hostelbookers
Mas na realidade não é. O que se passa é que o operador concentra o tempo psicologicamente de tal maneira que, para essa planta, esse tempo é muito mais longo ou amplo do que para nós, ou seja, se a planta normalmente deveria crescer uns trinta centímetros no período de um mês, cresce, por exemplo, esse mesmo tamanho em uma hora. Então, que é que acontece?
Para a planta essa hora é um mês. Desta maneira, também para os sistemas iniciáticos, para o candidato aos “Mistérios”, estabelecia-se uma série de provas e experiências através das quais para ele trinta ou quarenta anos se transformam numa vivência normal de vinte ou trinta encarnações diferentes. Por isso, na Iniciação Osiriana diz-se ao candidato que ele é como Osíris, que Osíris vai nascer nele próprio.
Na história comparada das religiões cumpre-se a máxima de S. Paulo, 'a letra mata e o Espírito é que dá a Vida'. Isto significa que, quando um mestre espiritual, um fundador de religião, divulga uma 'nova' mensagem espiritual coloca uma semente fortíssima na 'Terra', dando prioridade ao conteúdo sobre a forma. Esta tem a sua importância não “per se”, mas como “meio”, o mais perfeito possível, para que a mensagem seja veiculada. Com os séculos, a semente inicial floresce, frutifica, toma forma, mas o tempo, o Cronos dos Gregos, que come os seus filhos, que tudo vence, acaba por fossilizar as formas religiosas. Entretanto, cumprindo-se a eterna lei dos ciclos da Natureza, outras começam a germinar. Foi isto que aconteceu com a decadência da civilização greco-romana: ainda a degenerescência da religião romana estava oculta em germe e já Jesus, o grande mestre essénio, lançava nas terras da palestina as sementes para a futura “Era de Peixes”. Neste quadro histórico temos de ter em conta que: "Se Jesus Cristo quis conformar uma nova forma de vida, aquilo que os primitivos padres da Igreja denominaram 'um Homem Novo', teve que promover uma oposição à expansão dos poderes fácticos do império romano que, ébrio de glória, chegou a adorar-se a si mesmo, não como meio, à maneira augusta de: 'Pelo Império até Deus, que sintetizou no próprio apelativo de Augusto, até então apenas reservado a Júpiter, mas como culto maquinal dos atributos além do Ser. Desta forma, os seus seguidores contribuíram para a desintegração de um mundo e promoveram a criação de um outro». In Paulo A. Loução, Portugal, Terra de Mistérios, Edições Esquilo, 2001, ISBN 972-8605-04-8.
Continua
Cortesia de Esquilo/JDACT