terça-feira, 12 de março de 2013

Invasão Liberal no Algarve. A Derrocada do Absolutismo. Mário Domingues. «Os liberais não perderam o seu tempo. Apoderaram-se do arsenal da cidade, que se encontrava bem provido. Simultaneamente, o duque da Terceira mandava metade das suas forças em perseguição de Molelos pela estrada da Quarteira»

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(Continuação)

«Logo ao romper da manhã de 25, bem, municiados e apetrechados, avançaram sobre Tavira, onde entraram ao meio-dia, depois de uma breve escaramuça, na ponte do Almargem. A esquadra de Napier surgiu no porto, enquanto as tropas ocupavam a cidade, de onde a população fugira, atemorizada. Mas o duque da Terceira mandara afixar um edital tranquilizador, prometendo paz e liberdade, o que animou vários moradores a regressarem a suas casas. Nessa tarde do dia 25 apresentou-se em, Tavira uma deputação de Vila Real de Santo Anitónio a declarar que aderia à causa constitucional, pelo que partiu imediatamerrüe para ali um destacamenrto, comandado pelo coronel Breyner, armado e municiado, que estabeleceu naquela vila uma força regular. As operações realizavam-se rapidamente, mas sem precipitações. Na manhã imediata, o duque da Terceira avançou sobre Olhão, onde foi recebido com entusiasmo, e logo na rnanhã de 27 entrava em Faro, em cujas águas não tardou em surgir a esquadra liberal. Tudo se operava com regular precisão, colhendo de surpresa as defesas miguelistas daquela província.
Comandava as armas absolutistas do Algarve o general-visconde de Molelos, que só se lembrou das suas funções quando os constitucionais já desembarcavam na praia de Alagoa. As suas forças eram constituídas por 1600 homens e oito bocas-de-fogo. Mandando reconhecer à pressa as forças desembarcadas, logo verificou na escaramuça da ponte do Almargem que não poderia opor-se ao invasor e retirou para Faro, onde aliás não se demorou, abandonando a cidade antes de que lá chegasse o duque da Terceira. Então, acompanhado de vários funcionários da província e de outras individualidades mais comprometidas no miguelismo, foi refugiar-se na serra de São Bartolomeu de Messines, mas ainda aqui não conseguiu manter-se, pois uma brigada liberal, perseguindo-o, obrigou-o a tomar a direcção do Alentejo.
Então, como a população de Faro parecesse duvidar de que um exército tão pequeno tivesse probabilidades de êxito, o duque de Palmela desembarcou e, no intuito de inspirar confiança naquela gente receosa de futuras represálias miguelistas, estabeleceu logo urn governo provisório do Algarve, procedendo à aclamação da rainha D. Maria II, em cujos autos recolheu as assinaturas das principais individualidades de Faro.
Os liberais não perderam o seu tempo. Apoderaram-se do arsenal da cidade, que se encontrava bem provido. Simultaneamente, o duque da Terceira mandava metade das suas forças em perseguição de Molelos pela estrada da Quarteira, e ele próprio, com a outra metade, marchava sobre Loulé. Qanto a Napier, já abastecido de água e frescos, passava de Faro para Lagos. No entanto, o general miguelista ia retirando sempre, deixando à disposição do duque todo o interior da província e todas as baterias do litoral. A escuna absolutista Elisa passara para os liberais e prendera o capitão, ao mssmo tempo que a tripulação acordara em ficar ao serviço dos constitucionais. O Algarve achava-se, pois, todo submetido aos defensores de D. Maria II.
Notava-se, porém, certa resistência passiva resultante do terror e da propaganda fanática de frades e de pregadores reaccionários, levada a cabo em favor de Miguel, apresentado como heróico defensor da Igreja. Antes de abandonar o Algarve, onde não podia manter-se, o visconde de Molelos requisitou do governo de Lisboa urgente remessa de dinheiro e munições de guena com que pudesse opor-se às forças do duque da Terceira. Na capital, o conde de Basto, famoso pela violência com que perseguia os liberais, não sabia como acudir às necessidades de defesa do regime subitamente atacado por vários lados. Acabavarn de informá-lo de que, perto de Tomar, se formara uma guerrilha que se apoderara das armas existentes nos depósitos realistas e seguira para Barquinha, Alpiarça e Almeirim, a revoltar os anseios contra Miguel. Querendo extinguir o incêndio revolusionário que se ateara mandou marchar para Aldegalega em 9 de Julho o brigadeiro Raimundo Pinheiro com forças milicianas de Tomar e de Tavira, caçadores 1, mais um batalhão de infantaria 14 e um esquadrão de cavalaria 2. E Pinheiro seguiu logo de Aldegalega ao encontro de Molelos, cuja situação era difícil». In Mário Domingues, A Derrocada do Absolutismo, Evocação Histórica, Edição Romano Torres, série Lusíada, Lisboa, 1977.

Cortesia de R. Torres/JDACT