Cortesia de historia
«O infante D. Henrique foi sóbrio e austero de virtudes. Não adorava o fausto e o bulício da corte; e Cadamosto vai encontrá-lo, em 1454, na Raposeira, onde «por ser remota do tumulto das gentes e propícia à contemplação do estudo, ele habitava de preferência». Esta solicitude em buscar auxiliares e hóspedes de toda a Nação revela, pois, antes preocupaçõesde investigador científico; e, à luz das mais vastas possibilidades de conhecimento e informação, devemos estudar os seus desígnios. Ainda hoje se debatem e debaterão, opiniões contrárias sobre a espécie de causas que provocaram o movimento dos Descobrimentos portugueses e sobre a amplitude do plano respectivo em tempo do infante D. Henrique.
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A nosso ver, e antes de mais nada, essas divergências provêm quer da credibilidade de certos historiógrafos que tomam à letra o relato das crónicas oficiais, esquecendo que as conveniências do Estado obrigavam com frequência a uma política de sigilo, quer duma incapacidade, por carência de erudição ou de imaginação criadora, para abranger no seu complexo de ambições comerciais, sentimentos religiosos, ideias científicas e preparação técnica, todos os factores, de cujo feixe espectral clarearam as luzes do Renascimento.
Há, para ter uma visão completa, tanto quanto possível, que fazer a crítica das fontes oficiais e completá-las com toda a espécie de documentos acessórios e quantas vezes de origem clandestina.
Num pequeno estudo, tentámos demonstrar que o plano dos Descobrimentos é obra dum escol nacional, dentro do qual há que assinalar os principais responsáveis na direcção política da Nação, durante os três primeiros quartéis do século XV, ou sejam:
- D. João I,
- D. Duarte,
- o regente D. Pedro,
- D. Afonso V,
- D. João II.
Cortesia de wikipedia
«Os primeiros e definitivos passos no caminho da expansão marítima deram-se durante o reinado de D. João I. Logo três anos depois de Ceuta, começávamos a ocupar e povoar:
- o arquipélago da Madeira;
- a breve trecho seguiam-se as primeiras tentativas de descobrimento ao longo da costa de África;
- em 1424 o infante D. Henrique dirigia uma expansão de conquista, aliás pouco frutuosa, contra as Canárias;
- cerca de 1431, iniciava-se o reconhecimento do arquipélago dos Açores.
Tudo isto se deu em vida de D. João I, e um destes actos do longo plano, que então iniciávamos, a tentativa da conquista das Canárias com uma forte armada, foi de grande dispêndio para o erário real».
D. Pedro é certo que procurou contrariar com prudentes razões a empresa infeliz de Tânger. «Isto não impediu que ele enquanto ocupou a regência do Reino, durante os dez anos da menoridade de D. Afonso V, facilitasse por vários modos a empresa do irmão navegador, premiasse os navegantes que mais longe levavam as suas explorações, que ele próprio enviasse navios seus ao descobrimento e se ocupasse de colonização da ilha de S. Miguel». In Jaime Cortesão, A Expansão dos Portugueses no Período Henriquino, Portugália Editora, Lisboa 1965.
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