Cortesia de viciodapoesia
Sonho Oriental
Sonho-me ás vezes rei, n'alguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsamica e fulgente
E a lua cheia sobre as aguas brilha...
O aroma da magnolia e da baunilha
Paira no ar diaphano e dormente...
Lambe a orla dos bosques, vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha...
E emquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto n'um scismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,
Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descanças debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar.
Antero de Quental
Velut Umbra
Fumo e scismo. Os castelos do horizonte
Erguem-se, á tarde, e crescem, de mil cores,
E ora espalham no céo vivos ardores,
Ora fumam, vulcões de estranho monte...
Depois, que formas vagas vêm defronte,
Que parecem sonhar loucos amores?
Almas que vão, por entre luz e horrores,
Passando a barca d'esse aereo Acheronte...
Apago o meu charuto quando apagas
Teu facho, oh sol... ficamos todos sós...
É n'esta solidão que me consumo!
Oh nuvens do Occidente, oh cousas vagas,
Bem vos entendo a cor, pois, como a vós,
Beleza e altura se me vão em fumo!
Antero de Quental
JDACT