quarta-feira, 20 de abril de 2011

Alegoria da Dança. Reflexões sobre a dança a partir das metáforas de Zaratustra. Parte II. «Primeiramente o homem conhece o espírito do camelo, aquele que trabalha, que suporta grandes cargas, que obedece o «tu deves» como sua orientação de vida. Para esse espírito, nenhum esforço é demasiado e o homem que é dotado de tal energia não sucumbe facilmente às dificuldades que a realidade impõe»

(1844-1900)
Rocken, Alemanha
Cortesia de comunidademib

Reportando-me à exposição de António Sérgio na BM de Portalegre.
Com a devida vénia a Odilon José Roble.

Cortesia de crisart

Resumo
«Com base no pensamento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, busca-se esclarecer o conceito de «dança» utilizado alegoricamente pelo autor nas suas obras, especialmente em «Assim Falou Zaratustra». Nota-se que tal conceito tem fundamento na sua admiração pelo helenismo, mais especificamente na estética dionisíaca, e que as formas actuais de compreensão da dança podem estar distantes da caracterização realizada por Nietzsche. Observa-se também que, na filosofia nietzschiana, a alegoria da dança configura-se como um importante instrumento para o projecto de transfiguração moral proposto pelo autor.

Cortesia de jasg08
Para responder a essas perguntas trata-se de realizar o caminho inverso da metáfora nietzschiana, ou seja, se no Zaratustra a dança aparece como um suporte para o desenvolvimento de certa reflexão filosófica, nossa tarefa é a de partir dessa reflexão expressa por Nietzsche conduzindo-a para o fenómeno particular da dança. O que queremos, numa imagem simples, é um movimento espiral tal qual o de um remoinho de vento que, circularmente, ascenderia, captaria outros saberes e os depositaria novamente no solo. Assim, dança e filosofia devem revelar traços comuns, intersecções, formas similares de se situar perante a vida. É justamente esse posicionamento perante a vida que move Zaratustra nas suas andanças. Caminhando de cidade em cidade, de povoado em povoado, Zaratustra conhece o ser humano e profere discursos sobre esse ser à luz do seu projeto que é tanto o de identificar quem é o homem, como o de propor um «além do homem».

Cortesia de musicalidadesvariadas
Esse homem que Zaratustra encontra não está pronto, é mutável na sua essência. A natureza do homem é, então, mudar de forma. Para Nietzsche, são três possíveis metamorfoses, e é com essa percepção que o primeiro discurso de Zaratustra é proferido (NIETZSCHE, 2005, pp. 51-53). Primeiramente o homem conhece o espírito do camelo, aquele que trabalha, que suporta grandes cargas, que obedece o «tu deves» como sua orientação de vida. Para esse espírito, nenhum esforço é demasiado e o homem que é dotado de tal energia não sucumbe facilmente às dificuldades que a realidade lhe impõe. No entanto, há um espírito ainda mais forte, um espírito que está além do esforço em cumprir tarefas, de carregar fardos, trata-se de um espírito que tem em si o poder, a omnipresença, a capacidade de se impor. Esse é o espírito do leão. Forte em sua essência, tranquilo em sua presença, absoluto em sua dominação. O leão é expressão do «eu quero». Mas resta ainda ao homem a possibilidade de uma terceira metamorfose». In Alegoria da Dança, Reflexões sobre a dança a partir das metáforas de Zaratustra.

Continua.

Cortesia de Odilon José Roble/JDACT