Cortesia de atelie
Cortesia de superdo
Soneto do Gelo
Ingénuo sonhador - as crenças d'oiro
Não as vás derruir... Deixa o destino
Levar-te no teu braço de bambino,
Porque podes perder esse tesoiro.
Tens na crença um farol. Nem o procuras,
Mas bem o vês luzir sobre o infinito!...
E o homem que pensou, - foi um precito,
Buscando a luz em vão - sempre às escuras.
Eu mesmo quero a fé, e não a tenho...
- Um resto de batel - quisera um lenho,
Para não afundar, na treva imensa,
O Deus, o mesmo Deus que te fez crente...
Nem saibas que esse Deus omnipotente
Foi quem arrebatou a minha crença.
Camilo Pessanha
A Miragem
Parei a cogitar. No meu cabelo
Torvelinhava um vento de oração...
- Qual a acha que ardeu, feita carvão,
- A água que esfriou, tornada gelo.
Ajoelhei. O meu peito era um vulcão.
No céu lacrimejava o Sete-Estrelo...
E o seu fino perfil pude inda vê-lo,
Num halo de pudor e devoção.
Mas no meu coração, ardente lava,
Uma nuvem errática poisava,
E que ao longe obumbrou saudosas fráguas;
Hóstia santa de luz, desfeita em vhuva,
Qual beguina de Amor, de Deus viúva,
Num rosário a rezar, vertendo águas.
Camilo Pessanha
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