Frontispício do manuscrito
da História Geral das Guerras Angolanas, escrito em 1680
(1623-1690)
Vila Viçosa
Cortesia de wikipedia
«António Oliveira de Cadornega não é muito conhecido, o que é uma injustiça. Concluiu em 1681 os três volumes da sua História Geral das Guerras Angolanas, mas a obra só veio a ser impressa em 1940-1941. Também não é muito citado no estrangeiro, onde crescem as dificuldades para o conseguir perceber totalmente, o que já não é fácil por vezes para nós, portugueses. Mas o seu livro é de uma pureza, espontaneidade e veracidade, de um entusiasmo e um patriotismo que nos deixam encantados. Entendo que alguém deveria pegar nos três volumes e reescrevê-los em português corrente de hoje, e daí surgiria certamente um «best-seller» que toda a gente teria prazer em ler. O seu carácter de homem bom está espelhado nos seus textos, mas vale a pena fazer algumas referências também à sua vida.
«António Oliveira Cadornega, historiador português, natural de Vila Viçosa e falecido em Luanda, em 1690. Como militar, partiu para Angola em 1639, vindo a atingir o posto de capitão. Foi o primeiro provedor da Misericórdia de Massangano e, em Luanda, fez parte do Senado da Câmara. Autodidata, deixou obra vasta e preciosa sobre a ocupação portuguesa daquele território nos séculos XVI e XVII. Destaca-se a História Geral das Guerras Angolanas». In Infopédia.
Veríssimo Serrão afirma que nasceu em 1610, mas sem oferecer provas concretas disso. Sua irmã, Violante de Azevedo, dizia em 1662 ter 35 anos de idade, tendo nascido, portanto, em 1627. Com toda a probabilidade esta era a irmã mais nova, tendo vindo antes dela os irmãos Manuel, o mais velho, António e Francisca, sendo racional este espaço de 3 ou 4 anos entre o nascimento de António e o de Violante.
Cortesia de paraisodolivro
Por outro lado, quando Cadornega diz no seu livro ser em 1680, o português mais antigo em Angola, não quer dizer que é o mais velho em idade, como supõe Heintze, mas sim o que está há mais tempo na Conquista, isto é, há 41 anos; o que não admira, dada, por um lado, a mortalidade que ali grassava entre os brancos e, por outro, o facto de estes, em geral, abandonarem o país assim que podiam, depois de terminada a missão que tinham vindo cumprir.
Aos 15 anos, embarcou como soldado para Angola. Naquele tempo, abandonava-se nessa idade a casa dos pais, para ir para a Universidade, ou para iniciar o exercício de uma profissão.
Juntamente com seu irmão Manuel, terá estudado português e latim nas aulas dos Frades de Santo Agostinho, em Vila Viçosa. Em 1639, queria o pai que ambos prosseguissem os estudos, mas os dois irmãos decidiram ir à aventura para Angola, oferecendo-se como voluntários para a vida militar, Manuel como alferes e António como soldado. Para isso, pediram ao Duque de Bragança, futuro D. João IV, que escrevesse uma carta de recomendação para o recém-nomeado Governador-Geral, Pedro César de Menezes, com quem acabaram por embarcar no mesmo navio.
Porquê esta decisão? Entendo que os dois irmãos, inteligentes como eram, concluíram à evidência que, se tivessem algum sucesso na vida, acabariam mais cedo ou mais tarde nas masmorras da «maldita» Inquisição, destino fatal de todos os cristãos novos que de qualquer maneira se salientavam. Todo o êxito despertava invejas e, na sequência destas, surgiam as denúncias junto do terrível Tribunal. E os réus presos, para salvarem a vida, não tinham outra solução que não fosse confessar um vago judaísmo em que nem sequer acreditavam e denunciar todos os cristãos novos que conheciam, amigos e inimigos, parentes e estranhos. António certamente e também, com toda a probabilidade, Manuel, acabaram por morrer em Angola, não tendo nunca manifestado o desejo de regressar a Portugal.
Partiram, pois, os dois irmãos no mesmo navio que o Governador Geral nomeado, Pedro César de Menezes, tendo aportado a Benguela, como era carreira habitual das naves na altura e depois a Luanda, em 18 de Outubro de 1639. Pouco tempo depois, acontece a tomada de Luanda pelos holandeses e a população branca acaba por se refugiar toda na Vila da Vitória de Massangano.
A carreira militar de António prosseguiu e em 29 de Janeiro de 1649 foi elevado ao posto de capitão, posto em que, bastantes anos mais tarde, se reformou, tendo ficado a residir naquela fortaleza, pelo espaço de cerca de 28 anos». In Arlindo Correia.
Continua.
Cortesia de Arlindo Correia/wikipedia/JDACT