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«A edição da 2.ª parte da ‘Constante Florinda’, em 1633, na oficina de
António Álvares, é também significativa do sucesso da 1.ª parte. Este impressor,
com uma larga actividade ao longo do século, para lá de obras teológicas e
tratados técnicos ou textos filosóficos, dedica-se a uma literatura de carácter
romanesco em que as novelas da Florinda cabem perfeitamente. Editor de João de
Barros (‘Crónica do Imperador Clarimundo’, 1601), de Vasco Mouzinho de Quevedo
(‘Afonso Africano’, 1611), de Isidoro Barreira (‘História da vida e martírio da
Gloriosa Virgem Santa Iria’, 1618), de um relato da História Trágico-Marítima (‘Naufrágio
que passou Jorge de Albuquerque Coelho’), António Álvares é também o editor
português das novelas de Miguel de Cervantes, publicadas no ano da sua morte e
seguinte: ‘Novelas exemplares’, em 1617, e ‘La discreta Galatea’, em 1618. Mas
não fica por aqui este contacto do editor com autores castelhanos: em 1625 (ano
em que Gaspar Pires publica a 1.ª parte da “Constante Florinda” é publicada por
Álvares a edição lisboeta (em castelhano, tal como os livros de Cervantes) de
uma obra que terá sucessivas reedições por todo o século desde a 1.ª, em 1615-17
(Madrid), até à última, em 1686 (Leon):
- a novela pastoril ‘Poema tragico del español Gerardo e desengaño del amor lascivo’, de Don Gonzalo de Céspedes y Meneses. Rebelo encontra-se, então, ao lado de alguns dos mais ilustres e lidos autores peninsulares, e a referência feita aos pedidos para que publicasse a continuação dos ‘Infortúnios trágicos’ dão bem conta do interesse suscitado pela obra.
Perguntar-se-á, por outro lado, se não será esta referência no prólogo
um artificio retórico. É que, lida a primeira parte, tornam-se visíveis as múltiplas
deixas (no sentido teatral do termo) para novas aventuras que completem o
destino em suspenso de vários dos heróis da primeira parte, para não falar da
lacuna constituída pelo percurso do próprio Arnaldo, ausente desta 1.ª parte.
Temos, por isso, um projecto que está implícito já na edição de 1625,
anunciando a continuação (e conclusão infeliz, no seu desfecho trágico) de
1633, no que Rebelo segue as leis do género novelesco, do ‘Amadis’ ao ‘Palmeirim’,
passando pela ‘Diana’, todos eles livros que não se esgotam, sendo prolongados
ou pelo próprio autor ou por continuadores desejosos de explorar este filão
romanesco». In Infortúnios Trágicos da Constante Florinda, Nuno Júdice,
Teorema, Lisboa, 2005, Fundação C. Gulbenkian, HALP, 2005.
Continua
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