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«O tacto político de Humphrey de Gloucester, o regente de Inglaterra,
não soube, ou não pôde acompanhar sincronicamente os feitos de armas de seu
irmão em terras da França, e o resultado imediato dessa falta, desastroso sem
dúvida, foi o afastamento do duque de Borgonha, ao tempo o mais valioso aliado
dos ingleses. Não tardou muito que os exércitos de Bedford viessem avolumadas as suas
dificuldades de roda a espécie, consentindo que as tropas do rei Carlos, da
França, tomando a ofensiva, os expulsasse quase inteiramente do continente, empurrando-os
para a sua ilha.
Corria o ano de 1435. Bedford, de acordo com seu irmão, reconhecendo a
necessidade de um armistício com os gauleses, para evitar assim, a perda total
dos territórios que ainda tinham em França, um pé inglês no continente! negociou
a paz com os antagonistas. E, para a cimentar de forma durável e, ao mesmo tempo,
fortalecer os direitos do sobrinho, negociou a aliança matrimonial com a
princesa francesa Margarida de Anjou, filha de Renato, o “Bom” rei da Sicília.
Margarida recebera toda a sua educação na corte francesa e a sua presença
em Londres podia servir eficazmente a boa harmonia entre os dois países.
Em 1445 efectuavam-se os esponsais de Henrique VI, rei da Inglaterra,
com a princesa francesa Margarida de Anjou. Do ponto de vista político, como fisiológico, não podia conceber-se
enlace mais perfeito. Henrique VI, ente enfermiço, com acessos de imbecilidade
(decerto herança atávica recebida de seu avô Carlos VI, que sofria do mesmo
padecimento!) impossibilitado durante longos períodos de poder exercer uma
consciente administração do reino, precisava de ter a seu lado uma figura
enérgica, de sólida inteligência e espírito esclarecido, e com os mesmos
interesses a defender, que o secundasse regularmente e o substituísse nas fases
de crise mental a que ele era atreito. Margarida de Anjou reunia precisamente
todas as condições para o efeito.
A rainha, de índole enérgica e apercebendo-se de que não podia contar
demasiado com o marido, sendo mulher para arrostar com todas as situações, por
mais duras, depressa começou a exercer, necessariamente, a mais completa tutela
sobre ele, chamando a si o total domínio da governação pública. Para tanto, não
hesitou em afastar decididamente do poder o tio do monarca, o duque de
Gloucester, cuja política lhe desagradava, substituindo-o. O desvalido era
acusado de traição pelo bispo de Winchester, seu rival.
Após a assinatura da trégua de dois anos em Tours, a Inglaterra perdia,
em 1449, o domínio da Normandia. A agitação no país recrudesceu com o facto,
originando ameaçador mal-estar. A rainha, para demonstrar a sua isenção e
prevenir suspeitas contra a sua personalidade de francesa, tornou o seu conselheiro
Suffolk, herói de muitas vitórias em França, responsável pelo duro revés,
ordenando o seu exílio. O poderoso ministro acabou por ser assassinado em 1451,
mas levou para a tumba o labéu de traição e concussão a favor do inimigo.
A sucessão do valido caído em desgraça foi vivamente
disputada por ambições rivais. Na competição, Somerset bateu com dificuldade os
seus concorrentes, mas, por via disso, o reino ia tornar-se um campo turbulento
de lutas e dissídios. Com efeito, Ricardo, duque de York, que almejava governar,
embora sob a vigilância do rei Henrique VI, não se conformou com a derrota
política que sofreu, e levanta-se de armas na mão contra o poder, auxiliado em
tais propósitos pelo sobrinho, o famoso conde de Warwick». In Américo Faria, Dez
Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10, Lisboa, s/d.
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