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Nascimento da Ordem
«Nela a Igreja do Santo Sepulcro
reportava os fiéis à ressurreição de Cristo. Em 1118 já sob o domínio cristão, os
caminhos que davam acesso aos locais da fé eram bastante perigosos, por causa de
emboscadas constantes praticadas pelos mais diversos tipos de malfeitores,
salteadores e estupradores que viviam em cavernas nas colinas da Judeia e
aguardavam o desembarque de peregrinos em Jafa ou Cesareia. Um dos locais da fé
bastante trilhado pelos peregrinos ficava a leste de Jericó, no rio Jordão, onde
muitos cristãos eram rebaptizados em suas águas. Actos criminosos eram praticados
por saqueadores sarracenos e bandoleiros beduínos contra os que peregrinavam
entre a costa marítima e a cidade, factos comprovados por documentos da época
que descreviam os caminhos repletos de corpos humanos insepultos já em estado
avançado de decomposição. Motivados, em princípio, pela defesa desses caminhos,
eis que surgiu então um grupo de cavaleiros cristãos o qual foi formado
primeiramente por três grandes personalidades da França: Hugo de Champagne,
Hugo de Payns e São Bernardo. Em 1114, o nobre Hugo de Champagne, dono de um
dos mais valiosos conjuntos de possessões na França, deslocou-se por um breve período
entre o Oriente e a sua terra natal, na qual se encontrou com São Bernardo, um
fervoroso seguidor de Santo Agostinho de Hipona, cuja doutrina justificava o
uso da violência, quando praticado em legítima defesa.
Essa doutrina foi
absorvida pelo pensamento papal a fim de que os peregrinos também fossem
armados e capazes de se defenderem dos sarracenos. São Bernardo era um clérigo
de capacidade intelectual invejável e de um profundo sentimento religioso,
superando com esses méritos os seus pares. Hugo de Champagne manteve com ele
diálogos tão esclarecedores e transcendentes, a ponto de os estudiosos não
duvidarem de que ambos lançaram os fundamentos do regimento da futura ordem.
Antes de abandonar a
Europa, Hugo de Champagne ofereceu a Abadia de Clairvaux a São Bernardo. Já no
Oriente, Hugo de Payns, vassalo de Hugo Champagne, surgiu como o último vértice
do triângulo fundamental nos primórdios da constituição da ordem religiosa.
Hugo de Payns, com o poder e o apoio de seu senhor, também tornou-se amigo de
São Bernardo e profundo conhecedor de sua doutrina e obra, as quais lhe
causaram profundo sentimento religioso e repúdio aos crimes cometidos contra os
peregrinos. Em 1118, juntamente com Godofredo de Saint-Omer, outro valoroso
cavaleiro, resolveram fundar uma ordem religiosa e militar conhecida por “Pauperes
Commilitiones Christi Templique Salomonis”, ou seja, "Pobres
Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão", e passaram a ser chamados
sucessivamente de "Os Pobres Soldados de Jesus Cristo e do Templo de
Salomão", "Os Cavaleiros do Templo de Salomão", "Os Cavaleiros
do Templo", "Os Templários", e finalmente "O Templo". Adoptaram
a divisa “Non nobis, Domine, non nobis sed nomini tuo da gloriam”,
"Não para nós,
Senhor, não para nós a glória, mas só em teu Nome".
Alguns meses depois,
juntaram-se a eles outros cavaleiros: Geoffroy Bisot, Payen de Montdidier,
Archambaud de Saint-Aignan, André de Montbard (tio de São Bernardo), Gondemar e
Jacques de Rossal. Este pequeno grupo foi recolhido por Balduíno I numa das
mais modestas acomodações do “Templum Salomonis” (Templo de Salomão), em
Jerusalém, e teve inicialmente como objectivo a protecção dos peregrinos e como
votos iniciais a pobreza, a castidade e a obediência. Quando, algum tempo depois,
o rei Balduíno I abandonou o Templo de Salomão, este não se eximiu de oferecer
a totalidade das instalações àquela ordem religiosa e militar, derivando daí o
nome pelo qual passou a ser comumente conhecida: Ordem do Templo, composta por
nobres cavaleiros dispostos a defenderem a fé cristã com a própria vida. Para
eles a fé inabalável em Deus e a disposição em defendê-la até com o uso da violência
não causavam nenhum drama de consciência, nenhuma contradição que os
dissuadisse desse intento, embora a exortação de Jesus Cristo fosse oferecer a
outra face, fundamento cristão pregado pela Igreja primitiva. No entanto, era preciso
considerar o momento histórico de então, quando havia a necessidade imperiosa
de defesa da Igreja perante uma fé muçulmana sempre baseada na força. Nesses cavaleiros
estava incutida a ideia de que matar em nome de Deus era justificável e de que
morrer por Ele, santificável». In Pedro Silva, História e Mistérios dos
Templários, Rio de Janeiro, Ediouro, 2001, ISBN 85-00-00757-5, PDF.
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