quinta-feira, 31 de maio de 2012

História e Mistérios dos Templários. Pedro Silva. «Essa doutrina foi absorvida pelo pensamento papal a fim de que os peregrinos também fossem armados e capazes de se defenderem dos sarracenos. São Bernardo era um clérigo de capacidade intelectual invejável e de um profundo sentimento religioso, superando com esses méritos os seus pares»


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Nascimento da Ordem
«Nela a Igreja do Santo Sepulcro reportava os fiéis à ressurreição de Cristo. Em 1118 já sob o domínio cristão, os caminhos que davam acesso aos locais da fé eram bastante perigosos, por causa de emboscadas constantes praticadas pelos mais diversos tipos de malfeitores, salteadores e estupradores que viviam em cavernas nas colinas da Judeia e aguardavam o desembarque de peregrinos em Jafa ou Cesareia. Um dos locais da fé bastante trilhado pelos peregrinos ficava a leste de Jericó, no rio Jordão, onde muitos cristãos eram rebaptizados em suas águas. Actos criminosos eram praticados por saqueadores sarracenos e bandoleiros beduínos contra os que peregrinavam entre a costa marítima e a cidade, factos comprovados por documentos da época que descreviam os caminhos repletos de corpos humanos insepultos já em estado avançado de decomposição. Motivados, em princípio, pela defesa desses caminhos, eis que surgiu então um grupo de cavaleiros cristãos o qual foi formado primeiramente por três grandes personalidades da França: Hugo de Champagne, Hugo de Payns e São Bernardo. Em 1114, o nobre Hugo de Champagne, dono de um dos mais valiosos conjuntos de possessões na França, deslocou-se por um breve período entre o Oriente e a sua terra natal, na qual se encontrou com São Bernardo, um fervoroso seguidor de Santo Agostinho de Hipona, cuja doutrina justificava o uso da violência, quando praticado em legítima defesa.
Essa doutrina foi absorvida pelo pensamento papal a fim de que os peregrinos também fossem armados e capazes de se defenderem dos sarracenos. São Bernardo era um clérigo de capacidade intelectual invejável e de um profundo sentimento religioso, superando com esses méritos os seus pares. Hugo de Champagne manteve com ele diálogos tão esclarecedores e transcendentes, a ponto de os estudiosos não duvidarem de que ambos lançaram os fundamentos do regimento da futura ordem.
Antes de abandonar a Europa, Hugo de Champagne ofereceu a Abadia de Clairvaux a São Bernardo. Já no Oriente, Hugo de Payns, vassalo de Hugo Champagne, surgiu como o último vértice do triângulo fundamental nos primórdios da constituição da ordem religiosa. Hugo de Payns, com o poder e o apoio de seu senhor, também tornou-se amigo de São Bernardo e profundo conhecedor de sua doutrina e obra, as quais lhe causaram profundo sentimento religioso e repúdio aos crimes cometidos contra os peregrinos. Em 1118, juntamente com Godofredo de Saint-Omer, outro valoroso cavaleiro, resolveram fundar uma ordem religiosa e militar conhecida por “Pauperes Commilitiones Christi Templique Salomonis”, ou seja, "Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão", e passaram a ser chamados sucessivamente de "Os Pobres Soldados de Jesus Cristo e do Templo de Salomão", "Os Cavaleiros do Templo de Salomão", "Os Cavaleiros do Templo", "Os Templários", e finalmente "O Templo". Adoptaram a divisa “Non nobis, Domine, non nobis sed nomini tuo da gloriam”,
"Não para nós, Senhor, não para nós a glória, mas só em teu Nome".

Alguns meses depois, juntaram-se a eles outros cavaleiros: Geoffroy Bisot, Payen de Montdidier, Archambaud de Saint-Aignan, André de Montbard (tio de São Bernardo), Gondemar e Jacques de Rossal. Este pequeno grupo foi recolhido por Balduíno I numa das mais modestas acomodações do “Templum Salomonis” (Templo de Salomão), em Jerusalém, e teve inicialmente como objectivo a protecção dos peregrinos e como votos iniciais a pobreza, a castidade e a obediência. Quando, algum tempo depois, o rei Balduíno I abandonou o Templo de Salomão, este não se eximiu de oferecer a totalidade das instalações àquela ordem religiosa e militar, derivando daí o nome pelo qual passou a ser comumente conhecida: Ordem do Templo, composta por nobres cavaleiros dispostos a defenderem a fé cristã com a própria vida. Para eles a fé inabalável em Deus e a disposição em defendê-la até com o uso da violência não causavam nenhum drama de consciência, nenhuma contradição que os dissuadisse desse intento, embora a exortação de Jesus Cristo fosse oferecer a outra face, fundamento cristão pregado pela Igreja primitiva. No entanto, era preciso considerar o momento histórico de então, quando havia a necessidade imperiosa de defesa da Igreja perante uma fé muçulmana sempre baseada na força. Nesses cavaleiros estava incutida a ideia de que matar em nome de Deus era justificável e de que morrer por Ele, santificável». In Pedro Silva, História e Mistérios dos Templários, Rio de Janeiro, Ediouro, 2001, ISBN 85-00-00757-5, PDF.

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Cortesia de Ediouro/JDACT