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Sonho de África Nasceu com Portugal
«Em 28 de Junho de 1961 foi proferida, na sociedade
Histórica da Independência de Portugal, uma palestra pelo bolseiro do Instituto
de Alta Cultura para a Investigação de História Luso-Árabe. A essa palestra chamou
o autor: “o primeiro projecto de expansão ultramarina portuguesa no reinado de
Afonso Henriques.
José Garcia Domingues, autor do importante trabalho, negou ao
infante Henrique o pioneirismo na expansão ultramarina. Antes defendeu que a
ideia da expansão ultramarina portuguesa apareceu no reinado de Afonso
Henriques, coincidindo com o aparecimento da própria nacionalidade. E diz mais:
- esse projecto nasceu com Geraldo Geraldes, o ‘Sem-Pavor’ ou o ‘Cid Português’, como ficou conhecido.
Segundo demonstra José Garcia Domingues neste trabalho que
foi publicado no nº 24, ano XXI, ‘da Revista Independência (1961)’, por essa altura,
Geraldo Geraldes, encontrar-se-ia no norte de África ao serviço do Califa de
Almóadas (Iussuf). Cerca do ano de 1173, Afonso Henriques, entristecido com
isso, fez todos os esforços para que Geraldo regressasse a Portugal, cessando a
sua colaboração aos muçulmanos. Não há entre os testemunhos de Mário Domingues
e de José Garcia Domingues, uma ligação que explique como é que, depois de
tomar Évora, através de uma traição aos mouros, Geraldes (entre 1166 e 1173) se
tenha passado, de facto, para o lado dos mouros.
O que diz este último autor é que Geraldo Geraldes, “possivelmente
se tenha associado nas campanhas contra os leoneses que os Almóadas realizaram.
Essas campanhas levaram a um ataque à Cidade Rodrigo e à tornada de Alcântara”.
O seu chefe dessas campanhas, temendo que voltasse a
reforçar as tropas de Afonso Henriques, levou-o para África. Foi em 1176 que
Geraldo partiu de Sevilha para Marrocos, por ordem de Iussuf que dele queria valer-se
para entrar no Sahará. Nessa ocasião passaram por Tânger e Geraldes prestou
relevantes serviços ao Califa Iussuf que mais tarde o nomeou governador de Suz,
região que tinha Tarudante por capital e se prolongava até às praias de Agadir.
Na qualidade de senhor de Suz e com a ausência do Califa de Marrocos,
Geraldo Geraldes escreveu, através de um emissário, a Afonso Henriques,
explicando-lhe a força que tinha como governador dessa região do norte de
África, com muitos portos, em boas condições de serem utilizados, para que os
Portugueses entrassem em Marrocos. Mais se disponibilizava ao rei de Portugal
para lhe facilitar a tarefa, para o que bastava o rei responder-lhe
afirmativamente, acertando pormenores do plano.
Lamentavelmente a carta foi apreendida ao mensageiro. E o
Califa Iussuf, chamou Geraldo à sua presença, não lhe disse que apanhara a
carta e desafiou-o a ir, com a sua gente, para o Drá, onde a revolta se desencadeara
violentamente. O ‘Sem Pavor’, na boa fé, aceitou mais este desafio, partindo
para o Drá, a sul de Marrocos. Só que o Califa tinha avisado o governador de
Sijilmeça, capital do Drá, de que deveria receber festivamente os reforços, mas
assassinar o chefe português. E assim aconteceu, terminando, traiçoeiramente, a
carreira brilhante de Geraldo Geraldes que tivera, ele sim, o primeiro rasgo de
expansão ultramarina, só retomado em 1415, com a tomada de Ceuta.
José Garcia Domingues tentou demonstrar, com a conferência
proferida em 1961, que Geraldo Geraldes foi o “profeta-vidente do império Português
em Marrocos”. E se trazemos a figura de Geraldes a este trabalho com o qual pretendemos,
fundamentalmente, clarificar o significado das duas caras, é porque sobressai
em toda a História de Portugal uma epopeia de inesgotável significado que nunca
é demais recontar». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora
Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.
Cortesia de Guimarães/JDACT