sábado, 16 de junho de 2012

História da Civilização Ibérica. Oliveira Martins. «Por um extremo foi o núcleo de que se formou a nação portuguesa; por outro foi o lugar onde o movimento de reconquista no século X iniciado a um tempo nas Astúrias e no Aragão, se unificou, cerrando-se as colunas de aragoneses e asturianos que foram gradualmente descendo através das Castelas para a Andaluzia, como onda que impelia os muçulmanos…»


jdact

O Território
«Esta região representa aqui a metade da Espanha geologicamente antiga. No coração da Galiza, sobre o lençol dos granitos, desenham-se as rochas metamórficas mosqueadas de manchas plutónicas; e para Leste do Tâmega em Portugal, para Leste de Monforte e de Lugo na Espanha, começam os terrenos silúricos de Salamanca e Trás-os-Montes, de Zamora e Vila Franca, até o mar cantábrico. É um eriçado sistema de montanhas orientadas em todos os sentidos e entre cujas fendas se despenham os rios que são torrentes, quais o Douro desde Zamora, o Minho, e os rápidos caudais que descem da cordilheira cantábrica para o Golfo de Biscaia.
As costas, inóspitas desde o Cabo da Roca até Vigo e desde o Cabo Ortegal até Baiona, oferecem na ponta de Noroeste a bela baía de Vigo de um lado e a da Corunha do outro. O carácter dos habitantes, ou produzido pela geografia ou pela história, é bem distinto do de todos os vizinhos: o clima temperado e húmido, os vales vicejantes, as montanhas coroadas de florestas, a população densa, a propriedade pulverizada, a emigração activa. Nesta zona assentam cidades das mais nobres na história da moderna Espanha: Tolosa, Pamplona, Vitória e Bilbau, Oviedo a mais célebre na guerra, Pontevedra e Orense, Tui, Bragança, Braga primaz das Espanhas, o Porto, Coimbra e Viseu. Primeira entre as sucessivas regiões que os reis da Espanha moderna foram com o tempo ganhando ao domínio sarraceno, esta parte da Península tem nela foros de antiga fidalguia. Por um extremo foi o núcleo de que se formou a nação portuguesa; por outro foi o lugar onde o movimento de reconquista no século X iniciado a um tempo nas Astúrias e no Aragão, se unificou, cerrando-se as colunas de aragoneses e asturianos que foram gradualmente descendo através das Castelas para a Andaluzia, como onda que impelia os muçulmanos a repassar o Estreito e a voltar às terras donde séculos antes tinham vindo.

A Espanha é outra para o Sul do paralelo que de Coimbra, em Portugal, acompanhando as cumeadas da espinha dorsal da Península vai passar em Madrid e através da Serra de Molina chegar a Tarragona no Mediterrâneo. Desde Perpinhão nos Pirenéus, por Barcelona a fabril, pelas bocas do Ebro, cujos vinhos são célebres, por Tortosa, até Valência, teatro das campanhas do Cid nós já vimos que um cordão de montanhas limita contra o Mediterrâneo os vales interiores da Espanha Oriental.
A Ocidental, nesta metade, pode dividir-se em três zonas:
  • o planalto das Castelas com as suas vertentes mediterrâneas até Valência e Múrcia;
  • os vales do Tejo e do Guadiana, vertentes ocidentais ou atlânticas, com as serranias divisórias, isto é, a Lusitânia dos romanos;
  • a velha Bética ou a Bacia do Guadavalquivir engastada pela Serra Morena, montes Marianos, e pela Nevada, montes de Hipula.
Na primeira e na última destas regiões, dominam quase absolutamente os terrenos terciários; pertencem ambas à metade da Espanha geologicamente moderna. A segunda forma o resto da primitiva construção geognóstica da Península». In Oliveira Martins, História da Civilização Ibérica, Guimarães Editores, Lisboa, 1994.

Cortesia de Guimarães Editores/JDACT