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O Território
«Esta região representa aqui a metade da Espanha geologicamente antiga.
No coração da Galiza, sobre o lençol dos granitos, desenham-se as rochas
metamórficas mosqueadas de manchas plutónicas; e para Leste do Tâmega em
Portugal, para Leste de Monforte e de Lugo na Espanha, começam os terrenos
silúricos de Salamanca e Trás-os-Montes, de Zamora e Vila Franca, até o mar
cantábrico. É um eriçado sistema de montanhas orientadas em todos os sentidos e
entre cujas fendas se despenham os rios que são torrentes, quais o Douro desde
Zamora, o Minho, e os rápidos caudais que descem da cordilheira cantábrica para
o Golfo de Biscaia.
As costas, inóspitas desde o Cabo da Roca até Vigo e desde o Cabo
Ortegal até Baiona, oferecem na ponta de Noroeste a bela baía de Vigo de um
lado e a da Corunha do outro. O carácter dos habitantes, ou produzido pela geografia
ou pela história, é bem distinto do de todos os vizinhos: o clima temperado e
húmido, os vales vicejantes, as montanhas coroadas de florestas, a população
densa, a propriedade pulverizada, a emigração activa. Nesta zona assentam
cidades das mais nobres na história da moderna Espanha: Tolosa, Pamplona,
Vitória e Bilbau, Oviedo a mais célebre na guerra, Pontevedra e Orense, Tui,
Bragança, Braga primaz das Espanhas, o Porto, Coimbra e Viseu. Primeira entre
as sucessivas regiões que os reis da Espanha moderna foram com o tempo ganhando
ao domínio sarraceno, esta parte da Península tem nela foros de antiga
fidalguia. Por um extremo foi o núcleo de que se formou a nação portuguesa; por
outro foi o lugar onde o movimento de reconquista no século X iniciado a um
tempo nas Astúrias e no Aragão, se unificou, cerrando-se as colunas de
aragoneses e asturianos que foram gradualmente descendo através das Castelas
para a Andaluzia, como onda que impelia os muçulmanos a repassar o Estreito e a
voltar às terras donde séculos antes tinham vindo.
A Espanha é outra para o Sul do paralelo que de Coimbra, em Portugal,
acompanhando as cumeadas da espinha dorsal da Península vai passar em Madrid e
através da Serra de Molina chegar a Tarragona no Mediterrâneo. Desde Perpinhão
nos Pirenéus, por Barcelona a fabril, pelas bocas do Ebro, cujos vinhos são
célebres, por Tortosa, até Valência, teatro das campanhas do Cid nós já vimos
que um cordão de montanhas limita contra o Mediterrâneo os vales interiores da
Espanha Oriental.
A Ocidental, nesta metade, pode dividir-se em três zonas:
- o planalto das Castelas com as suas vertentes mediterrâneas até Valência e Múrcia;
- os vales do Tejo e do Guadiana, vertentes ocidentais ou atlânticas, com as serranias divisórias, isto é, a Lusitânia dos romanos;
- a velha Bética ou a Bacia do Guadavalquivir engastada pela Serra Morena, montes Marianos, e pela Nevada, montes de Hipula.
Na primeira e na última destas regiões, dominam quase absolutamente os
terrenos terciários; pertencem ambas à metade da Espanha geologicamente
moderna. A segunda forma o resto da primitiva construção geognóstica da
Península». In Oliveira Martins, História da Civilização Ibérica, Guimarães
Editores, Lisboa, 1994.
Cortesia de Guimarães Editores/JDACT