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«Foram
também escritas nesta fase as seguintes redondilhas, tão repassadas de resignada
melancolia:
Mote
Esperanças
mal tomadas,
Agora
vos deixarei.
Tão mal
como vos tomei.
Voltas
Fostes
tomadas em vão
De mim,
sem fundamento;
E vós
éreis todas de vento
E eu delle
vivia então.
Se vos
tomei sem razão.
Com ella
vos deixarei.
Tão mal
como vos tomei.
Assim
vos queria ter,
Sem razão
e mal tomadas,
Sabendo,
quando deixadas.
Quanto
havieis de doer.
Mas nem
isto pode ser,
Que por
meu mal vos tomei,
E por
vós me deixarei.
Quereis
que faça mudança?
De vós
outro bem não entendo.
Isto só
se ganha em vos vendo,
Isto só
de vós se alcança.
Mas esta
vã esperança,
Senhora,
se eu a tomei
Por vós,
como a deixarei?
Mote
Ó meus
altos pensamentos,
Quão altos
que vos pusestes
E quão
grande queda destes!
Voltas
Como de
mim vos não vinha
Serdes
firmes num estado
(Pois
o viver enganado
Era o
maior bem que tinha),
Castello
d'esta alma minha,
Quão alto
que vos pusestes
E quão
grande queda destes!
Sabia
que éreis de vento,
Como quem
vos viu fazer;
Inda assim
vos queria ter,
Como éreis
sem fundamento.
Quem vos
desfez num momento?
Ai! Quão
alto vos pusestes
E quão
grande queda destes!
Quantas
lágrimas, porém, não derramou o enamorado poeta, antes de chegar a este estado de
espírito! Quantas vezes se não lembrou de morrer, enquanto não arrancou do coração
o “seu alto pensamento!”
Lêem-se,
entre outras, as poesias que se seguem.
Já a roxa
Manhã clara
As portas
do oriente vinha abrindo,
Dos montes
descobrindo
A negra
escuridão, da luz avara.
O Sol,
que nunca pára,
Da sua
alegre vista saudoso,
Trás ella
pressuroso,
Nos cavallos
cansados do trabalho,
Que respiram
nas hervas fresco orvalho,
Se estende
claro, alegre e luminoso.
Os pássaros,
voando.
De raminho
em raminho vão saltando,
E com
suave e doce melodia
O claro
dia estão manifestando.
A Manhã
bella, amena,
Seu rosto
descobrindo, a espessura
^Se
cobre de verdura,
Clara,
suave, angélica, serena.
Oh deleitosa
pena!
Oh effeito
de amor, alto e potente!
Pois
permitte e consente
Que,
ou onde quer que eu ande ou donde esteja,
O seraphico
gesto sempre veja,
Por quem
de viver triste sou contente.
Mas tu.
Aurora pura,
De tanto
bem dá graças á ventura.
Pois as
foi pôr em ti tão excellentes,
Que representas
tanta formosura.
A luz,
suave e leda,
A meus
olhos me mostra por quem mouro,
Com os
cabellos de ouro.
Que
nenhum ouro iguala, se os remeda.
Esta a
luz é que arreda
A negra
escuridão do sentimento
Ao doce
pensamento.
Os orvalhos
das flores delicadas
São, nos
meus olhos, lagrimas cansadas,
Que eu
choro co prazer de meu tormento.
Os pássaros
que cantam,
Meus espíritos
são, que a voz levantam,
Manifestando
o gesto peregrino
Com tão
divino som, que o mundo espantam.
Assi como
acontece
A quem
a cara vida está perdendo
Que, emquanto
vai morrendo,
Alguma
visão santa lhe apparece:
A mim,
em quem fallece
A vida,
que sois vós, minha Senhora,
A esta
alma, que em vós mora,
Emquanto
da prisão se está apartando,
Vos estais
justamente apresentando
Em forma
de formosa e roxa Aurora.
Oh ditosa
partida!
Oh gloria
soberana, alta e subida,
Se ma
não impedir o meu desejo!
Porque
o que vejo, emfim me torna a vida.
Porém
a natureza,
Que nesta
pura vista se mantinha,
Me falta
tão asinha,
Como o
Sol sahe sobre a redondeza.
Se houverdes
que é fraqueza
Morrer
em tão penoso e triste estado,
Amor será
culpado
Ou vós,
onde elle vive tão isento,
Que causastes
tão largo apartamento,
Porque
perdesse a vida co cuidado.
Que, se
viver não posso,
Homem
formado só de carne e osso,
Esta vida
que perco. Amor ma deu,
Que não
sou meu: se morro, o damno é vosso.
Canção
de cysne, feita em hora extrema,
Na dura
pedra fria
Da memoria
te deixo, em companhia
Do letreiro
da minha sepultura.
Que a
sombra escura já me impede o dia.
(Canção
3.ª).
Se,
para desoprimir o seu triste coração, o poeta subia às vezes
... ao
monte que Hercules Thebano
Do altissimo
Calpe dividiu,
quantas
vezes não procuraria sítios recônditos, para aí se desfazer em lágrimas
ardentes! (149)». In José Maria Rodrigues (3 1761 06184643.2),
Coimbra 1910, PQ 9214 R64 1910 C1 Robarts/.
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