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O nascimento das ordens
militares na Península Ibérica
«Para além dos
hospitalários e dos templários, fundaram-se na Palestina outros institutos
religiosos militares, nomeadamente a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos (que
rapidamente estendeu a sua actividade à Europa oriental e central) e a Ordem
dos Cavaleiros do Santo Sepulcro. E se delas não há notícias de uma grande
penetração na Península Ibérica, já as milícias templária e hospitalária
tiveram uma rápida e precoce difusão neste território, que vivia, também ele,
num clima de guerra contra os muçulmanos, no âmbito da Reconquista. Contudo, e
pelo menos no que respeita aos templários, o seu interesse pelos territórios
peninsulares prendeu-se, numa primeira fase, mais com a necessidade de
rendimentos e homens do que com a presença islâmica: apesar de cedo aparecer no
Condado Portucalense, é apenas na segunda metade do século XII que a Ordem do
Templo se vai envolver na Reconquista aragonesa e castelhana.
Numa perspectiva mais
global, a Santa Sé olhava os territórios que iam sendo tomados aos muçulmanos
na Península Ibérica como o palco ideal para a efectivação da reforma da Igreja
que pretendia. O ambiente religioso peninsular, que dava a base necessária à
restauração das dioceses que durante a ocupação árabe tinham sido abandonadas,
era propício não só à imposição da liturgia romana, em substituição das que até
então imperavam na Península Ibérica, mas também às novas formas de monaquismo
e ao ideal de uma nova cavalaria. Daí o apoio dado por Roma às iniciativas
militares dos príncipes cristãos, que visavam reduzir o domínio árabe na
Península e expandir a fé cristã. Contudo, e ao contrário do que se passava na
Palestina, foram estes últimos, os reis e príncipes cristãos, e não a Santa Sé,
através dos templários e dos hospitalários, que lideraram o processo da
Reconquista, procurando adaptar o ideal de cruzada à sua política de expansão
territorial, ao mesmo que resolviam o problema da colonização das áreas
conquistadas.
Em meados do século XII
existiam já nas zonas fronteiriças reconquistadas da Península vários
conventos-fortaleza (por exemplo, Belchite). Nelas viviam cavaleiros que
consagravam a sua vida à religião e à luta armada contra os muçulmanos. Não se
tratava de ordens militares, no verdadeiro sentido da palavra, até porque não
se regiam por uma Regra própria. Alguns autores vêem neles um paralelismo com
os ribats, mosteiros muçulmanos fortificados onde viviam soldados que
repartiam o seu tempo entre a guerra contra os cristãos e exercícios religiosos
de tipo ascético. A grande diferença entre estes ribats e as Ordens
Militares reside no facto de aqueles serem apenas fortalezas isoladas, sem
qualquer organização militar, sem regra e sem extensão territorial, ao
contrário destas últimas.
As vicissitudes próprias
de um processo como o da Reconquista fizeram com que a fronteira cristã
conhecesse avanços e recuos: várias foram as fortalezas que, após terem sido
subtraídas ao domínio muçulmano, voltaram a cair nas mãos destes. Tal
aconteceu, por exemplo, em 1143, altura em que Kalaat Rawah, baluarte
importante na rota da Andaluzia e praça fundamental para a defesa do reino de
Castela, é de novo tomada pelos muçulmanos.
Recuperada pelos
cristãos quatro anos mais tarde, a fortaleza, chamada pelos guerreiros
castelhanos “Calatrava”, foi entregue aos templários, que tinham colaborado
activamente na sua reconquista. Após a morte de Afonso VII, ocorrida em 1157, e
perante nova ameaça almoada, estes cavaleiros não quiseram aí permanecer,
alegando que o seu reduzido número não permitia uma defesa eficaz. Sancho IV,
não tendo possibilidades de assumir a necessária tarefa defensiva, prometeu a
doação da construção militar e de todo o domínio que a circundava a quem se
encarregasse, com êxito, de tal missão.
Por esta altura encontrava-se junto da corte castelhana Raimundo de
Serrat, que dirigia a abadia cisterciense de Fitero (filha da abadia de Scala
Dei), com o objectivo de ver confirmados alguns privilégios anteriormente
outorgados ao seu mosteiro. O abade cisterciense, associado a Diego Velasquez, um
cavaleiro que havia servido Afonso VII ter-se-á proposto responder ao apelo do
monarca, que prontamente efectivou a prometida doação à Ordem de Cister, na
pessoa de Raimundo». In
Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV,
Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.
continua
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