sexta-feira, 8 de junho de 2012

D. João II vs Colombo. José M. Garcia. Duas Estratégias divergentes na busca das Índias. «Colombo conta-se entre os mais importantes navegadores da História dos Descobrimentos a par de figuras como Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e Fernão de Magalhães. … podemos relacionar vários dados dispersos que nos permitem compreender a problemática das origens e evolução das suas actuações»


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Origem e divergência de duas estratégias
«Os portugueses foram os pioneiros a revelar à Europa novas terras e a estabelecer contactos entre as mais diversas gentes tendo adoptado desde 1443 posturas monopolistas que visaram assegurar-lhes o benefício de uma exclusividade económica resultante da prioridade dos conhecimentos alcançados sobre os novos mercados onde iam chegando. Apesar desta atitude de reserva no decorrer do processo dos Descobrimentos as autoridades portuguesas permitiram pontualmente que pessoas de outras nacionalidades participassem nos seus empreendimentos e não conseguiram impedir o acesso a informações que possuíam, tendo acabado por suscitar iniciativas levadas a cabo por homens fora da sua alçada. De entre as figuras que se encontraram nesta situação destacou-se Cristóvão Colombo, que logrou descobrir a América em 1492, realizando assim um feito de grande magnitude que pode ser considerado numa perspectiva simbólica como o reflexo de uma espécie de cooperação internacional involuntária, visto ter nascido em Génova em 1451, recebido uma formação portuguesa pelos anos de 1476 a1485 e acabado por concretizar o seu projecto ao serviço de Castela em 1492.
Colombo conta-se entre os mais importantes navegadores da História dos Descobrimentos a par de figuras como Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e Fernão de Magalhães. Ao considerarmos as diferentes características das acções destes homens devemos ponderar que enquanto Bartolomeu Dias e Vasco da Gama foram portugueses escolhidos pelos reis João II e Manuel I para executarem uma política oficial de Estado, visando a chegada às Índias por uma rota oriental, o genovês Colombo e o português Fernão de Magalhães conceberam os seus projectos pessoais em Portugal mas só os realizaram por rotas ocidentais ao serviço de Castela e com o apoio dos reis Fernando e Isabel por um lado e Carlos V por outro, pois não se integravam nas estratégias adoptadas pelas autoridades portuguesas. Os arrojados empreendimentos levados a cabo por Colombo e Magalhães revelaram-se verdadeiramente notáveis mas estiveram errados na sua formulação e não alcançaram os objectivos pretendidos, pois o primeiro não chegou a Ásia como pretendia, na medida em que em vez de a encontrar se deparou com a América, e o segundo não provou que as Molucas se encontravam na parte castelhana da Terra estabelecida no Tratado de Tordesilhas, já que estas ilhas estavam na parte portuguesa, ainda que ao chegar às Filipinas tivesse acabado por realizar o sonho de Colombo, pois atingiu a Ásia navegando para oeste.

Quanto ao caso de Colombo há a considerar que estamos perante uma figura deveras surpreendente Porque não tendo no início das suas actividades uma posição social e política proeminente conseguiu colocar-se nas últimas décadas do século XV no centro da problemática dos Descobrimentos em que se equacionaram as opções ocidentais e orientais a adoptar nas viagens marítimas que iriam estabelecer a ligação entre várias partes da Terra.
A partir de uma investigação sobre os encontros e desencontros de Colombo e João II podemos relacionar vários dados dispersos que nos permitem compreender a problemática das origens e evolução das suas actuações. Tais matérias estão envoltas em inúmeras dificuldades resultantes de interpretações desencontradas mas ainda assim ousámos apresentar aqui algumas perspetivas que se nos afiguram úteis para um melhor entendimento da História dos Descobrimentos.

A problemática das duas opções estratégicas dos Descobrimentos e a carta de Toscanelli
  • Muitas opiniões houve nestes reinos de Portugal, nos tempos passados, antre alguns letrados, acerca do descobrimento das Etiópias de Guiné e das Índias; porque uns diziam que não curassem de descobrir ao longo da costa do mar, e que melhor seria irem pelo pego, atravessando o golfão, até topar em alguma terra da Índia ou vezinha dela, e por esta via se encurtaria o caminho; outros disseram que melhor seria descobrirem ao longo da terra, sabendo pouco e pouco o que nela ia, e assim suas rotas e conhecenças, e cada província de que gente era, para verdadeiramente saberem o lugar em que estavam, por onde podiam ser certos da terra que iam buscar, porque de outra guisa não podiam saber a região em que estavam, e a mim me parece que a segunda opinião foi mais certa, e assim se fez.
Foi desta forma que em 1505 Duarte Pacheco Pereira se referiu à problemática dos Descobrimentos, tal como havia sido debatida ‘nos tempos passados, entre alguns letrados’, indicando claramente que se colocaram duas opções estratégicas sobre qual a melhor forma a seguir nos Descobrimentos para chegar à Ásia. Uma dessas posições defendia a ida para ocidente, ‘que melhor seria irem pelo pego, atravessando o golfão, até topar em alguma terra da Índia ou vezinha dela’, enquanto a outra defendia a ida para sul e depois para leste, pois o ‘melhor seria descobrirem ao longo da terra’». In José Manuel Garcia, D. João II vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.

Cortesia de Quidnovi/JDACT