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«O apoio material
necessário a um tal empreendimento terá vindo do próprio arcebispo de Toledo,
que, para além do fornecimento de armas e dinheiro, terá pregado uma Cruzada
com o fim de atrair voluntários para a defesa da praça. A avaliar pelo recuo
estratégico que os almoadas então levaram a cabo, desistindo da conquista de
Calatrava, o número dos que responderam afirmativamente aos apelos do Arcebispo
e do próprio abade, foi provavelmente considerável. O perigo imediato terá
então passado, mas vários cavaleiros resolveram permanecer junto de Raimundo de
Serrat, organizando uma confraria militar inspirada no modelo de vida
cisterciense (1158), que tomou o nome da fortaleza onde estava sediada:
Calatrava. Esta comunidade “mista”, composta por monges e por cavaleiros,
manteve-se como instituição religioso-militar enquanto Raimundo foi vivo. Mas a
sua morte fez levantar o problema da sucessão, já que os monges queriam
escolher um abade (conforme estipulava a regra de Cister), enquanto que os
cavaleiros preferiam designar um de entre eles para ser seu mestre. Às dissensões
então ocorridas, juntou-se o desagrado da abadia de Scala Dei, (casa-mãe de Fitero,
pelo facto e não ter sido consultada aquando da criação do convento-fortaleza de
Calatrava. O resultado da oposição dos monges cistercienses aos cavaleiros foi
o abandono dos primeiros da comunidade, ficando esta reduzida a um grupo de
guerreiros que, sem uma unidade religiosa forte, tinha fortes probabilidades de
se vir a desagregar. Tornava-se, pois, imperioso admitir religiosos, regulares
ou seculares, que se tornassem capelães e assegurassem a orientação espiritual
dos membros, pelo menos enquanto a milícia não se ligasse a uma ordem
religiosa. Por esta razão, o mestre dos cavaleiros, Diego Velásquez, pediu a
incorporação na Ordem de Cister, por ocasião da celebração do Capítulo Geral
desta ocorrido em 1164. O resultado, embora positivo já que os membros de
Calatrava passam a ser considerados fratres cistercienses, não foi um
êxito total para os cavaleiros: a nova ordem não terá sido então incorporada na
hierarquia cisterciense, permanecendo como uma casa à parte da estrutura de
Cister. Não havendo uma Regra estabelecida, o Capítulo Geral terá então
incumbido a abadia de Scala Dei da sua redacção, plasmando num texto a união
espiritual dos cavaleiros aos monges brancos. A incorporação definitiva da
ordem de Calatrava em Cister, isto é a sua aceitação como casa-filha de um
convento cisterciense, só ocorreu em 1187, altura em que o mestre Nuno Perez de
Quirionez, com o apoio do monarca castelhano e de vários outro magnates do
reino, a pediu, com sucesso, ao Capítulo Geral de Cister, então reunido.
Doravante, os freires calatravenhos ficariam ligados a Morimond, considerada a
partir de então sua abadia-mãe. São patentes as vantagens que a incorporação no
sistema cisterciense lhes trazia: se por um lado há um direito de visita da
abadia-mãe à(s) abadia(s)-filha(s) para verificar nesta(s) o cumprimento dos
Estatutos e a vida religiosa, por outro, cada abadia e, no caso em apreço, o
convento de Calatrava preservava a sua autonomia económica e de gestão
patrimonial. Também não deixa de ser importante a extensão de todos os
privilégios outorgados à Ordem de Cister pelos monarcas e, sobretudo, pelos
pontífices a todos os institutos religiosos que a ela pertenciam, como era o
caso da Ordem militar castelhana.
Se inicialmente
Calatrava actua apenas em Castela, logo durante o mestrado de Martim Peres de
Siones (1170-1182), a milícia expande-se pelos outros reinos peninsulares.
Estão documentadas visitas regulares dos mestres à Corte dos reis de Leão, que,
aliás, se mostraram bastante generosos para com os cavaleiros, fazendo-lhe
doações importantes. A razão da generosidade dos monarcas leoneses reside não
na ajuda militar (de que não há notícia) mas no facto de Calatrava ser uma
Ordem criada para defender as fronteiras e que se tinha inicialmente mantido
como uma instituição puramente castelhana, pelo que era possível que lutasse ao
lado dos reis de Castela contra o reino de Leão. Para evitar esta hipótese, os
reis de Leão terão tentado “comprar”, com propriedades situadas no seu reino, a
neutralidade dos calatravenhos.
Por volta de 1170, após a conquista de Leão por Fernando II, fundou-se naquele
reino, em Cáceres, uma irmandade ou confraria de cavaleiros, que ficou
conhecida como “freires de Cáceres”. Dirigido por Pedro Fernandes, este novo
instituto religioso visava defender as conquistas já efectuadas e a realizar
pelas hostes cristãs na Estremadura castelhana. Só após um acordo celebrado com
o arcebispo de Santiago de Compostela, em 1071, a irmandade passa a
denominar-se Ordem de Santiago». In
Maria Cristina A. Cunha, Estudos sobre a Ordem de Avis, séculos XII-XV,
Faculdade de Letras, Biblioteca Digital, Porto, 2009.
continua
Cortesia da Faculdade de Letras do Porto/JDACT