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«A atmosfera política não podia ser mais favorável aos seus desígnios. A
perda sucessiva de todas as províncias das Inglaterra em França, neste reinado
de Henrique VI, fizera extravasar o descontentamento da nação. Aproveitando,
habilmente, a exaltação do povo inglês pelos penosos acontecimentos, não foi
difícil a Ricardo (neto de Edmundo, 1º duque de York e filho de Ana Mortimer,
herdeira da casa de Clarence, portanto de linhagem real) levantar o estandarte
da revolta nesse ano de 1450 e congregar à sua volta um avultado número de
adeptos.
A normalidade da vida nacional fica assim perturbada, dividida em dois
partidos, o da ‘Rosa Vermelha’, de apoio ao rei; e o da ‘Rosa Branca’,
favorável ao duque de York. A guerra civil estala, devastando o país com todo o
seu cortejo de horrores.
Apaziguado o ambiente, em 1453, por intervenção do monarca, o
nascimento d um herdeiro e a enfermidade do rei que começou a sofrer das
faculdades mentais como seu avô, Carlos VI, faz aumentar o conflito, numa série
de violências e intrigas, conseguindo o duque de Yorq, sem nessa altura ir mais
longe nas suas pretensões, ser eleito Protector.
Não ficara, porém, satisfeita a rainha com tal nomeação, que outorgava
a Ricardo poderes especiais. Desconfiada dos ocultos intentos do York,
contrafeita pela sua proximidade da corte, ela espreita apenas a oportunidade
melhor para se libertar do rival, sacudi-lo do poder. Não esperou muito, pois,
dois anos decorridos, pôde satisfazer o seu desejo. O York era destituído das
suas funções em 1455.
A guerra civil crepita de novo, envolvendo implacavelmente no fogo
destruidor as duas facções em luta. Somerset tomba no campo de batalha, morto
pelo York, e, este, sempre auxiliado pelo hábil Warwick, encorajado pelo
desaire infligido ao inimigo, marcha contra as forças de Henrique VI, com estas
travando a batalha de Saint-Albans em 1455. Aqui, o soberano recebe a afronta
de ser aprisionado pelo rival.
Uma aparente trégua reconciliou, em princípio, os dois partidos, mas
isso ,não passa dum fogo de vistas efémero e enganador. A luta entre ambos logo
recomeçou, mais assanhada e brutal, procurando cada um dos contendores a
vitória decisiva, que assegurasse a tranquilidade do reino. A situação tinha
forçosamente de ser esclarecida, e um deles, o mais fraco, teria de dar lugar
ao outro.
O país precisava de paz, todos o reconheciam, e a rainha mais do que
todos. Mas, exactamente porque Margarida tinha agora um supremo fito na vida: a
defesa dos interesses de seu filho, convinha-lhe resolver em definitivo o
problema da guerra, batendo de vez o irrequieto rival do trono.
Ela, resolutamente, de ânimo íntegro e forte, reorganiza o seu exército
e, em 1460, supondo-se apta para a luta, enfrenta a força do partido da “Rosa
Branca”, em Northampton». In
Américo Faria, Dez Monarcas Infelizes, Livraria Clássica Editora, colecção 10,
Lisboa, s/d.
Cortesia de Livraria Clássica
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