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«Por tudo o que dissemos, está para nós fora de qualquer dúvida que o
nome actual da cidade de Portalegre deriva dos termos latinos “Portus” e
“Alacer”; “Portus alacer” nos escritos da chancelaria do rei Dinis.
O termo “Portus” não se emprega apenas na acepção do porto de mar;
também significa lugar de abrigo, de refúgio e de repouso em terra. conhecem-se
dezenas de povoados denominados portos, (de terra) em Portugal e nas Espanhas.
Aqui está outra vez a referência aos caminhos, à Serra e ao Rossio.
Os muros de defesa da vila medieval toram concluídos pelo “Rei Lavrador”;
é porém quase certo que já existissem algumas muralhas mais antigas. O rei
Dinis, neto de Afonso X, “o Sábio”, de Leão e Castela, poeta como ele e com
quem conviveu na sua juventude em Sevilha, bem que era politicamente
indispensável demarcar e ocupar o território do Reino a todo o custo. E em
breve verificou que estava na razão; foi Dinis I que assinou o “Tratado de
Alcanices” (1297). O extenso e bem protegido castelo de Portalegre defendia a
Vila e servia bem para nele se arregimentarem e se treinarem os seus
cavaleiros, os seus besteiros e a sua peonagem. Só assim se compreende a
largueza dos seus muros que contrasta com o perímetro mais curto de povoados
vizinhos muito mais importantes (Marvão, Crato, Arronches). E a Vila que sempre
se deve ter estendido até ao Rossio, logo se prolongou para o arrabalde do
Corro e, três séculos depois, alargou-se para os lados da Corredoura. A sua
natureza militar exigiu essa extensão sucessiva e os nomes desses arrabaldes
ensinam-nos o motivo e a razão pelas quais eles se desenvolveram.
António Ventura, Luís Bacharel e outros citam o foral de 1259 de Afonso
III e um documento mais antigo que se refere a uma "venda de casa na vila
aos templários”. Se diz “casa na vila" é porque já existiam arrabaldes. O convento
de São Francisco foi edificado em 1229, junto às Portas de Alegrete, quando
Portalegre ainda pertencia ao concelho de Marvão e só muitos anos depois é que
o termo do Crato deixou de se encostar às muralhas da vila.
Não julgamos assim que seja fantasista a nossa noção de admitirmos que
a importância de Portalegre esteja na sua situação geográfica, no facto de ser
encontro de caminhos velhos e, assim, em razões estratégicas e militares. Mas tudo
isso bem ligado ao Rei Lavrador e à sua política; Portalegre desenvolve-se logo
no século XIII. É o próprio monarca Dinis que, após o cerco de 1229, lhe
confere o senhorio de Vila do Rei, isto é, apenas vinte anos depois de seu pai,
Afonso III, haver doado ao infante Afonso a s vilas de Marvão, de Vide e de
Portalegre.
Portalegre foi um povoado medieval, essencialmente moçárabe, e assim se
manteve. A afirmá-1º está todo o arranjo das suas ruas e praças dentro dos
muros, a praça maior, a rua dos açougues, a rua nova, a rua da cadeia, a rua
dos besteiros, a rua da carreira, a rua do Lourencinho, a rua de Elvas, a rua direita,
e já fora da muralha, o rossio, a rua da mouraria, a rua dos potes (ou das
olarias), a rua dos violeiros, a rua dos mexes, a rua dos canastreiros, a rua
dos clérigos, a rua do chantre, a rua do cano, etc. E ainda a rua da capela,
paralela e no extremo da rua da mouraria. Estaria por ali, por aquele pequeno
largo junto à igreja (nova) de S. Lourenço, o cemitério mouro, o ‘almocávar’?».
In Caria Mendes, Notas acerca das Origens de Portalegre. Uma questão de
Geografia Humana, Faculdade de Medicina de Lisboa, Actas do I Encontro da
História Regional e Local, Setembro de 1987.
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