segunda-feira, 18 de junho de 2012

D. João II vs Colombo. José M. Garcia. Duas Estratégias divergentes na busca das Índias. «O famoso genovês admirava João II, como o demonstra numa carta que em 1505 enviou ao rei Fernando, o Católico, em que afirmou ser o rei português aquele que “entendia en el descobrir más que outro”. Apesar do bom relacionamento entre os dois homens estes defenderam e seguiram rumos diferentes…»


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A problemática das duas opções estratégicas dos Descobrimentos e a carta de Toscanelli
«O autor era partidário da segunda opção, tal como o foram os dirigentes portugueses desde o infante  Henrique até Manuel I, passando por João II, tendo sido pela via oriental que Vasco da Gama chegou à Índia em 1498.
A outra opção foi partilhada por alguns letrados cujos nomes não foram mencionados pelos cronistas mas seguiam o parecer do florentino Paolo dal Pozzo Toscanelli, tendo entre os seus partidários mais activos figuras como Colombo e Martin Behaim.
Foi em torno destas duas vias que se centraram as acções de Colombo e João II, sendo de considerar que o rei português apreciava aquele genovês, como o mostrou no salvo conduto que lhe passou em Avis a 20 de Março de 1488 ao tratá-lo com grande consideração a ponto de chegar ao tom muito cordial que se vê na forma como se lhe dirige no sobrescrito do referido documento:
  • A christovam collon noso espcial amigo em sevilha, enquanto no texto o nomeia sob a forma de Christoual Colon.
O famoso genovês, por sua vez, admirava João II, como o demonstra numa carta que em 1505 enviou ao rei Fernando, o Católico, em que afirmou ser o rei português aquele que “entendia en el descobrir más que outro”. Apesar do bom relacionamento assim demonstrado entre os dois homens estes defenderam e seguiram rumos diferentes para a realização dos Descobrimentos que protagonizaram e foram decisivos para a História da Humanidade.
As opções sobre a ida para ocidente ou oriente para chegar às Índias terão sido debatidas em Portugal pelo menos em 1459 e 1474, como se deduz do teor da carta que o florentino Paolo dal Pozzo Toscanelli (1397-1482) enviou de Florença a 25 de Junho de 1474 a Fernando Martins, cónego da Sé de Lisboa. Este documento é fundamental para a História dos Descobrimentos e chegou ao nosso conhecimento porque Colombo o copiou numa folha colocada no fim do seu exemplar da “Historia rerum ubique gestarum” de Pio II, que se encontra na Biblioteca Colombina em Sevilha. Esta carta foi publicada pela primeira vez em l87l tendo permitido corrigir as deformadas traduções quinhentistas que dela foram feitas nas obras de Fernando Colombo e Bartolomeu de las Casas. Estes autores tentaram construir a informação de que Toscanelli e Colombo se teriam correspondido através de um outro florentino chamado Lorenzo Berardi, como referem através das seguintes expressões de Fernando Colombo:
  • "(...) venne ciò a notizia dell’Ammiraglio, curiosissimo di queste cose e tosto col mezo d'un Lorenzo Girardi fiorentino che era in Lisbona scrisse sopra ciò al dtto maestro Paolo [Toscanelli] (...), que foram seguidas por Las Casas ao escrever que tal troca de correspondência foi feita "(...) tomando por medio a un Lorenzo Birardo, asimismo florentino, que a la sazón o vivia o residia en Lisboa (...).
De notar que o nome Birardo é que está correto, o que é mais um dos muitos indícios que revelam as deturpações que foram introduzidas na edição da obra de Fernando Colombo. A maior parte dos estudos realizados sobre esses alegados contactos epistolares entre Colombo e Toscanelli levam-nos a aceitar que foram forjados, mas não se sabendo a forma como Colombo teve acesso à carta de Toscanelli, para o caso de não ser através da própria corte portuguesa, poderia ser verosímil admitir a possibilidade de ter sido através do referido Lorenzo Berardi.
Seria estranho que Fernando Colombo tivesse inventado o aparecimento desta figura neste contexto, sendo ele um mercador florentino que viveu em Lisboa e foi pai de Juanoto Berardi, que em Castela veio a ser um colaborador e financiador de Colombo. Lorenzo Berardi esteve associado em Portugal a outro importante mercador florentino chamado Bartolomeu Marchione, o qual também poderá ter estado envolvido no processo de transmissão do parecer de Toscanelli em Portugal. Esta suposição é dada a entender por Piero Vaglienti (1435-1514), também ele florentino, que registou cerca de 1509 no seu elogio do rei Manuel I um conjunto de dados interessantes, ainda que envolvidos em deformações e confusões, como acontece no seguinte excerto, escrito a propósito do objetivo que levou os Portugueses à Índia». In José Manuel Garcia, D. João II vs Colombo, Duas Estratégias divergentes na busca das Índias, Quidnovi, 2012, Vila do Conde, ISBN 978-989-554-912-2.

Cortesia de Quidnovi/JDACT