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«Entretanto existia ainda no Crato alguma porção de trigo e
farinha, que era conveniente salvar, e para este fim mandou o Duque um
Destacamento de quinhentos homens de Infantaria, e quarenta ou sessenta cavalos,
cujo comando confiou ao coronel Carcome, ordenando-lhe que logo que chegasse a
Flor de Rosa, aí tomasse Posto, e se mandasse informar se o inimigo tinha ou
não já entrado no Crato; qual a situação de seus Postos avançados; e até onde lançava
as suas Patrulhas, a fim de executar esta operação com toda a circunspecção, e
prudência.
Nesta segunda comissão se houve Carcome como na primeira. Chegado
a Flor de Rosa, em vez de tomar as cautelas convenientes, contentou-se com
saber que no Crato não havia ainda espanhóis: e sem estabelecer guardas avançadas,
nem vedetas nos lugares convenientes, assentou de dar algumas horas de descanso
à sua Tropa, que ainda não tinha comido, e se achava assaz fatigada de marcha,
que executara na noite precedente e na manhã daquele dia, a qual por culpa de
seu guia fora mais dilatada do que deveria ser. No meio do descanso, a que se
abandonara, foi surpreendido por um Corpo espanhol de dois a três mil homens,
que o Inimigo mandava ao Crato com o fim de apoderar-se do Depósito secundário,
que ali existia. Teve Carcome ainda tempo para formar a sua Tropa; mas em vez
de expedir logo a notícia do aperto em que se achava para o Campo do Gavião, e
para Ponte de Sor, para onde sabia que se tinha mandado marchar de Abrantes um
Destacamento assaz forte para auxiliar a sua retirada, e a marcha do seu
Comboio por aquele lado; não conhecendo a vantagem que lhe ofereciam o Convento,
e a mesma Povoação de Flor da Rosa, aonde poderia fazer-se forte, e defender-se
o tempo bastante para ser socorrido; não sabendo mesmo parquear-se com os seus
carros; rumou o partido de bater-se em retirada, o que fez por espaço de uma
légua Aldeia da Mata. Ali se defendeu valentemente até consumir o cartuxame,
que a sua Infantaria tinha nas patronas: e achando-se envolvido por todos os lados,
se rendeu prisioneiro de guerra com mais de metade do seu Destacamento, tendo
perdido a sua artilharia e munições, e uma grande parte dos carros que
conduzira para a evacuação do Depósito». Cartas do autor da História Geral da
Invasão dos Franceses em Portugal, e da restauração deste reino, por Francisco
de Borja Garção Stockler [...], Rio de Janeiro, na Impressão Régia, 1813.
In António
Ventura, O Combate de Flor da Rosa, Conflito Luso-Espanhol de 1801, Edições
Colibri, C. M. do Crato, 1996, ISBN 972-8288-23-9.
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