Anel de vidro, MDDS
jdact
«O afastamento de “Bracara Augusta” do palco de perturbações que
afectaram a Hispânia, entre finais do século II e meados do III e o facto da
cidade garantir a sua sobrevivência, basicamente a partir da região envolvente,
poderão tê-la poupado de maiores sobressaltos, permitindo uma vida regular aos
seus habitantes, ainda que sem grande incremento das actividades construtiva e
comercial.
Entre finais do século III e inícios do IV “Bracara Augusta” registou um importante programa de renovação urbana, que compreendeu remodelações significativas de edifícios públicos e privados e a construção de uma muralha com torreões. Esse programa parece associar-se à promoção da cidade a capital da província da Galécia, criada por Diocleciano, que integrou os três conventos jurídicos do Noroeste e parte do de Clunia. As remodelações realizadas nessa época, observadas em grande número de construções em diferentes sectores da cidade, permitem constatar que as elites mantiveram aí a sua residência, procedendo a significativos melhoramentos das suas habitações, as quais passaram a incluir, generalizadamente, quer banhos privados, quer pavimentos com mosaicos.
Por outro lado, observa-se um bom ritmo de importações de cerâmica, ao longo de todo o século IV, sendo de destacar o funcionamento dos ateliers de produção de cerâmica local, cujos produtos continuaram a difundir-se na região. “Bracara Augusta” manteve, assim, ao longo daquele século, uma significativa actividade comercial e artesanal, não parecendo conhecer qualquer processo de retracção económica, ou de despovoamento. A persistência de uma vida económica e social activas, durante todo o século IV, pode ser uma consequência das novas responsabilidades políticas e administrativas da cidade, decorrentes da sua promoção a capital provincial. Essas responsabilidades terão sido mesmo acrescidas quando “Bracara Augusta” se tornou sede de bispado, nos finais do século IV, o que garantiu à cidade a administração de um importante território. Os numerosos cargos políticos e religiosos que se ofereciam às elites urbanas representaram um importante factor de fixação, justificando a sua residência na área urbana.
De Bracara Augusta à Braga medieval
As fontes históricas disponíveis para o período entre os séculos V e XI, são reduzidas. Por outro lado, a Arqueologia não fornece um registo claro sobre a ocupação suevo-visigótica da cidade, nem tão pouco sobre as consequências das incursões muçulmanas na região. Neste sentido, é ainda muito mal conhecido o período histórico que medeia entre 411, data da instalação dos Suevos na região de Braga, e o século XI, em que se organizou a cidade medieva, em torno da Sé.
Tendo em conta os dados fornecidos pela Arqueologia é possível afirmar que a ocupação suévica de “Bracara Augusta” não determinou o imediato declínio da cidade. Se algumas construções foram abandonadas, como aconteceu com as termas públicas do Alto da Cividade, outras foram entretanto erguidas, como parece ter acontecido na zona da Sé e um pouco por todo o extenso perímetro da cidade romana. A continuidade da vida urbana, ao longo do século V, surge-nos igualmente demonstrada pelos enterramentos realizados nas diferentes necrópoles romanas conhecidas, por um bom ritmo de importações de cerâmica e pela persistência de ateliers de cerâmica comum local e regional. Quer os materiais, quer as remodelações de edifícios públicos ou privados, observados nas escavações, revelam que a cidade resistiu às perturbações decorrentes do saque de Teodorico, em 455, referido com grande dramatismo por Idácio». In Bracara Augusta Cidade Romana, Manuela Martins, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, 2000, ISBN 972-9382-10-7.
continua
Cortesia da UA da Universidade do Minho/JDACT
Entre finais do século III e inícios do IV “Bracara Augusta” registou um importante programa de renovação urbana, que compreendeu remodelações significativas de edifícios públicos e privados e a construção de uma muralha com torreões. Esse programa parece associar-se à promoção da cidade a capital da província da Galécia, criada por Diocleciano, que integrou os três conventos jurídicos do Noroeste e parte do de Clunia. As remodelações realizadas nessa época, observadas em grande número de construções em diferentes sectores da cidade, permitem constatar que as elites mantiveram aí a sua residência, procedendo a significativos melhoramentos das suas habitações, as quais passaram a incluir, generalizadamente, quer banhos privados, quer pavimentos com mosaicos.
Por outro lado, observa-se um bom ritmo de importações de cerâmica, ao longo de todo o século IV, sendo de destacar o funcionamento dos ateliers de produção de cerâmica local, cujos produtos continuaram a difundir-se na região. “Bracara Augusta” manteve, assim, ao longo daquele século, uma significativa actividade comercial e artesanal, não parecendo conhecer qualquer processo de retracção económica, ou de despovoamento. A persistência de uma vida económica e social activas, durante todo o século IV, pode ser uma consequência das novas responsabilidades políticas e administrativas da cidade, decorrentes da sua promoção a capital provincial. Essas responsabilidades terão sido mesmo acrescidas quando “Bracara Augusta” se tornou sede de bispado, nos finais do século IV, o que garantiu à cidade a administração de um importante território. Os numerosos cargos políticos e religiosos que se ofereciam às elites urbanas representaram um importante factor de fixação, justificando a sua residência na área urbana.
Inscrição do tempo de Augusto conservada numa parede da Sé
De Bracara Augusta à Braga medieval
As fontes históricas disponíveis para o período entre os séculos V e XI, são reduzidas. Por outro lado, a Arqueologia não fornece um registo claro sobre a ocupação suevo-visigótica da cidade, nem tão pouco sobre as consequências das incursões muçulmanas na região. Neste sentido, é ainda muito mal conhecido o período histórico que medeia entre 411, data da instalação dos Suevos na região de Braga, e o século XI, em que se organizou a cidade medieva, em torno da Sé.
Tendo em conta os dados fornecidos pela Arqueologia é possível afirmar que a ocupação suévica de “Bracara Augusta” não determinou o imediato declínio da cidade. Se algumas construções foram abandonadas, como aconteceu com as termas públicas do Alto da Cividade, outras foram entretanto erguidas, como parece ter acontecido na zona da Sé e um pouco por todo o extenso perímetro da cidade romana. A continuidade da vida urbana, ao longo do século V, surge-nos igualmente demonstrada pelos enterramentos realizados nas diferentes necrópoles romanas conhecidas, por um bom ritmo de importações de cerâmica e pela persistência de ateliers de cerâmica comum local e regional. Quer os materiais, quer as remodelações de edifícios públicos ou privados, observados nas escavações, revelam que a cidade resistiu às perturbações decorrentes do saque de Teodorico, em 455, referido com grande dramatismo por Idácio». In Bracara Augusta Cidade Romana, Manuela Martins, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, 2000, ISBN 972-9382-10-7.
Perspectiva da rua oeste das Carvalheiras
continua
Cortesia da UA da Universidade do Minho/JDACT