Vista de Macau, século XIX
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O colégio de Macau e a missão do Japão (1594-1614)
«O Colégio de Macau representa um marco na história da presença lusa no
Extremo Oriente. Instalado em solo chinês sob administração portuguesa, estava
vocacionado para apoiar a acção dos Jesuítas na Ásia Oriental. No entanto, a
sua criação provocou uma forte polémica no seio da própria Companhia, e foi a
cidade de Macau que assegurou a sua fundação.
Tanto quanto podemos perceber, as autoridades locais terão entendido
que a existência do Colégio reforçava a importância da cidade no contexto do Império
Português e dava-lhe um novo instrumento de afirmação no Extremo Oriente.
Neste estudo cingimo-nos à análise do processo da génese do Colégio, em
1594, e da sua ligação à missão do Japão até à proibição do cristianismo pelas
autoridades nipónicas e a expulsão dos eclesiásticos, em 1614. Nestes dois
decénios, o colégio foi, sem dúvida, um elemento importante na articulação dos
interesses dos portugueses relativos à China e ao Japão.
Um colégio na China para a missão japonesa
A emergência de Macau, a partir de 1557, foi, em grande medida, uma
consequência dos excelentes negócios que os portugueses realizavam no Japão
desde 1543. Esse comércio tornou mais intensa a presença dos aventureiros no
Mar da China e propiciou uma reviravolta nas relações luso-chinesas, que haviam
sido marcadas pela hostilidade do Império do Meio ao longo do segundo quartel
quinhentista. Ao longo da segunda metade do século XVI, os contactos luso-chineses
foram muito limitados e quase circunscritos a Macau e Cantão; do ponto de vista
da China, apesar da entrada no Império de algumas novidades, a acção dos
Portugueses continuava a ser um factor marginal no contexto da vida do Celeste
Império. No entanto, Macau, certamente um porto minúsculo do ponto de vista dos
chineses, tornou-se então o principal centro mercantil dos portugueses no
Extremo Oriente, uma escápula de onde irradiavam rotas mercantis em todas as
direcções. Era, além disso, a grande base de apoio que sustentava as
actividades de missionários e comerciantes no Japão.
No país do Sol Nascente, a presença dos “nanbanjin” influenciou decisivamente a evolução político-militar do
Império, assim como enriqueceu extraordinariamente a ciência e a cultura
nativas, ao mesmo tempo que centenas de milhar de nipónicos se convertiam ao
cristianismo, tornando a cristandade nascente um problema político. Desde 1580,
a missão japonesa era composta por um corpo numeroso de religiosos, apoiado por
dezenas de auxiliares e por centenas de serviçais; as comunidades cristãs
estavam espalhadas por grande parte do arquipélago e contavam com fiéis
oriundos dos mais variados sectores da sociedade, pelo que esta religião
adquirira uma dimensão nacional inequívoca.
Na mesma época, o número de jesuítas em Macau eta reduzido, as conversões
na cidade eram escassas e só então os missionários começavam a aventurar-se no
interior do Império Chinês. No entanto, Macau era uma cidade onde os
Portugueses tinham poderes públicos próprios e mantinham uma relação
suficientemente cordial com as autoridades imperiais, enquanto no Japão, apesar
do sucesso dos negócios e da acção missionária, a presença lusa no território
dependia da vontade de certos ‘dáimios’, dado que o Império estava mergulhado
numa longa guerra civil (1467-1590).
O crescimento do ritmo das conversões, particularmente notório a partir
de 1575, coincidiu com a fase decisiva do processo de reunificação política do
Império, que havia sido desencadeado por Oda Nobunaga (1534-1582), em 1568, e
que foi praticamente concluído, em 1590, por Toyotomi Hideyoshi (1536-1598),
seu herdeiro político. A cristandade nipónica e os mercadores portugueses
enfrentaram então uma nova situação, pela primeira vez a sua presença no país
estava dependente de uma única vontade». In Portugal e a China, Conferências
nos Encontros de História Luso-Chinesa, João Paulo O. Costa, Fundação Oriente,
Convento da Arrábida, 2000, ISBN 972-785-033-2.
Cortesia de F. Oriente/JDACT