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Orquestra Geração. Viva la Vida
«No pf dia 11 de Julho, as Orquestras Geração reúnem-se no Anfiteatro
ao ar livre para mais um concerto de Verão, que vai trazer à Fundação cerca de
400 jovens músicos amadores. Fomos espreitar um dos ensaios de uma parte da Orquestra
de Sopros, que é uma das novidades neste concerto em que serão interpretadas
várias músicas, entre elas o tema “Viva la Vida” da banda pop-rock britânica
Coldplay.
É fim de tarde e, no pátio da Escola Miguel Torga, na Amadora, onde o
projecto das Orquestras Geração começou há cinco anos, avistam-se apenas dois
ou três jovens a conversar e a jogar displicentemente à bola. Dentro do
edifício, os corredores estão praticamente vazios e, não fosse o som de um instrumento
de sopro, que ouvimos ao longe, pensaríamos mesmo que já todos tinham ido para
casa. Mas não. Ao virar da esquina, sentadas num banco, duas raparigas
indicam-nos onde fica o bar dos alunos. É aí que vai começar dentro de poucos
minutos o último ensaio do núcleo de sopros desta escola, com 14 elementos.
Reunidos com os núcleos de sopros de outras dez escolas nos concelhos de
Amadora, Loures, Sesimbra, Sintra, Oeiras, Lisboa e Vila Franca de Xira, formam
um dos mais recentes agrupamentos da Orquestra Geração: a Orquestra de Sopros,
que conta, no total, com 200 crianças e jovens do ensino básico e secundário.
[…]
O 'El Sistema' em Portugal
O projetco das Orquestras Geração é centrado na acção e desenvolvimento
social através da música, experimentando assim um método inovador em Portugal
de combate ao insucesso escolar que oferece aos mais jovens formação musical
gratuita. Inspira-se no Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis da
Venezuela, conhecido por “El Sistema”, criado em 1975, destinado à população
infanto-juvenil das zonas urbanas desfavorecidas de Caracas. Há dois anos, um
grupo de professores que trabalha no El Sistema veio da Venezuela para observar
os resultados do projecto das Orquestras Geração em Portugal. Ficaram
surpreendidos. João Azevedo, professor do Conservatório que dirige o ensaio de
sopros na Escola Miguel Torga, explica-nos porquê:
- “Na Venezuela criam uma orquestra de cordas, que pode estar a trabalhar entre quatro e seis anos, e só depois adicionam os sopros. Mas nós temos feito uma abordagem diferente e está a funcionar.”
Na Escola da Damaia, por exemplo, neste ano lectivo o projecto foi
iniciado com cordas e sopros, em simultâneo. Nas outras escolas, no primeiro
ano eram sempre as cordas e só no segundo ano se juntavam os sopros. “Há um
trabalho que as cordas têm de realizar, que é mais difícil”, explica o
professor. “Todos os instrumentos têm o seu grau de dificuldade, mas os sopros
adaptam-se mais facilmente.” Uma abordagem diferente, mas que tem produzido
resultados muito positivos.
Ensaio de orquestra
Regressemos ao bar dos alunos da Escola Miguel Torga, onde os jovens
que fazem parte da recente Orquestra de Sopros já estão instalados. O professor
explica-nos que estes meninos já tocam juntos desde 2007 para a Orquestra
Principal, que reúne sopros, cordas e percussão. Mas a Orquestra de Sopros foi
criada apenas no início do ano lectivo 2011-2012. Aqui encontramos flauta,
oboé, clarinete, fagote e, nos metais, trompete, trompa, trombone e tuba, a que
se junta ainda a percussão. Os violinos, violas, violoncelos e contrabaixos
estão ausentes. Quando perguntamos aos alunos o que significou esta passagem, a
resposta é unânime e focada num único fator: o repertório. “Enquanto a
Orquestra Principal toca Aleluia de Händel ou toca Strauss, um repertório mais
clássico, portanto, na Orquestra de Sopros há mais flexibilidade”, complementa
o professor.
[…]
O grupo só voltará a reunir-se em Julho, altura em que começam os
chamados “estágios de verão”. Até lá, juntarse-ão apenas para mais uma audição
“familiar” (ocorrem regularmente, no final de cada período) onde mostram aos
pais o que aprenderam a tocar ao longo do ano. Há um trabalho individual que é
desenvolvido semanalmente durante 30 minutos e depois há as apresentações em
conjunto, como a que acontecerá na Fundação Gulbenkian, uma vez mais.
Entretanto, a segunda fila dispersa-se mais e o professor queixa-se – “os
trompetes estão moles!” –, mas não desiste. E fala-nos do caso do Rodrigo,
talvez o mais irrequieto do grupo, que começou por estudar oboé, mas ao fim de
dois anos manifestava grande desmotivação. Fez então a transição para o
trompete, que está a tocar há oito ou nove meses, e está satisfeito. Quando se
passa de um instrumento de palheta para um instrumento vocal, há vários novos
elementos a adquirir, mas o professor não tem dúvidas de que foi a opção certa.
“É um caso raro, mas abriu-se esta excepção”, diz. E como qualquer exceção que
se preze, só veio confirmar a regra: o projeto funciona e o Rodrigo continua a
tocar». In Fundação C. Gukbenkian, Orquestra Geração, Viva la Vida, Newsletter,
Julho – Agosto, 2012.
Cortesia da Fundação C. Gulbenkian/JDACT