segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Passeio Aleatório. Pela Ciência do Dia-a-Dia. Nuno Crato. «… a probabilidade de ocorrer um desastre varia sobretudo com o número de escalas e não com a duração do voo, mas é necessário calcular a extensão média de cada voo para estabelecer comparações com a mesma distância numa viagem de automóvel»


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Os Aviões e os Sapos
«Todos temos comportamentos irracionais. Há quem tenha medo de sapos e de outros animais inofensivos, mas sonhe ser um grande caçador de leões. E há quem tenha receio de entrar num avião, mas acelere acima do razoável nas auto-estradas. A verdade é que o voo continua a ser um meio de transporte muito mais seguro do que o automóvel, mesmo após os abalos causados pelo 11 de Setembro.
Michael Sivak e Michael Flamagan, da Universidade de Michigan, fizeram um estudo comparativo resumido no ‘American Scientist’. Compararam as fatalidades rodoviárias e da aviação no período entre 1992 e 2001. Seleccionaram os voos das dez maiores companhias norte-americanas, calcularam as distâncias totais e o número de mortes. Escolheram depois estatísticas de viagens em auto-estrada, que, apesar de tudo, são mais seguras que as viagens urbanas. E seleccionaram apenas os óbitos de condutores.
Para estudar os riscos de voo, é preciso distinguir os voos simples dos voos com várias paragens, pois os problemas concentram-se na descolagem e na aterragem. É nessas alturas que ocorrem 95% dos desastres fatais. Por isso, a probabilidade de ocorrer um desastre varia sobretudo com o número de escalas e não com a duração do voo, mas é necessário calcular a extensão média de cada voo para estabelecer comparações com a mesma distância numa viagem de automóvel.
Feitas as contas para um voo simples médio (1157 km), o risco de fatalidade aérea é de 78,6 em mil milhões, enquanto o risco equivalente numa viagem de carro é de 5091 em mil milhões. Ou seja, conduzir é cerca de 65 vezes mais perigoso do que voar.
Estes números incluem já as tragédias de 11 de Setembro. Mas o futuro é impossível de prever, pelo que faz sentido inquirir o que acontecerá se o terrorismo aéreo aumentar. Mesmo assim, os números são relativamente tranquilizantes, se é que se pode usar essa palavra: para ser tão arriscado viajar de avião como de automóvel, teria de haver desastres semelhantes aos de 11 de Setembro 120 vezes no período de dez anos considerado, ou seja, ao ritmo de um por mês.
Se estas comparações são um pouco cruas, fiquemos com um número simples: o risco de desastre aéreo num voo com uma escala é equivalente ao de conduzir quatro minutos numa auto-estrada». In Nuno Crato, Passeio Aleatório, pela Ciência do Dia-a-Dia, Gradiva, Ciência Aberta, 2009, ISBN 978-989-616-216-0.


Cortesia de Gradiva/JDACT