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Os Aviões e os Sapos
«Todos temos comportamentos irracionais. Há quem tenha medo
de sapos e de outros animais inofensivos, mas sonhe ser um grande caçador de
leões. E há quem tenha receio de entrar num avião, mas acelere acima do razoável
nas auto-estradas. A verdade é que o voo continua a ser um meio de transporte
muito mais seguro do que o automóvel, mesmo após os abalos causados pelo 11 de
Setembro.
Michael Sivak e Michael Flamagan, da Universidade de
Michigan, fizeram um estudo comparativo resumido no ‘American Scientist’.
Compararam as fatalidades rodoviárias e da aviação no período entre 1992 e 2001.
Seleccionaram os voos das dez maiores companhias norte-americanas, calcularam
as distâncias totais e o número de mortes. Escolheram depois estatísticas de
viagens em auto-estrada, que, apesar de tudo, são mais seguras que as viagens
urbanas. E seleccionaram apenas os óbitos de condutores.
Para estudar os riscos de voo, é preciso distinguir os voos
simples dos voos com várias paragens, pois os problemas concentram-se na
descolagem e na aterragem. É nessas alturas que ocorrem 95% dos desastres fatais.
Por isso, a probabilidade de ocorrer um desastre varia sobretudo com o número
de escalas e não com a duração do voo, mas é necessário calcular a extensão média
de cada voo para estabelecer comparações com a mesma distância numa viagem de
automóvel.
Feitas as contas para um voo simples médio (1157 km), o
risco de fatalidade aérea é de 78,6 em mil milhões, enquanto o risco equivalente
numa viagem de carro é de 5091 em mil milhões. Ou seja, conduzir é cerca de 65
vezes mais perigoso do que voar.
Estes números incluem já as tragédias de 11 de Setembro. Mas
o futuro é impossível de prever, pelo que faz sentido inquirir o que acontecerá
se o terrorismo aéreo aumentar. Mesmo assim, os números são relativamente
tranquilizantes, se é que se pode usar essa palavra: para ser tão arriscado
viajar de avião como de automóvel, teria de haver desastres semelhantes aos de
11 de Setembro 120 vezes no período de dez anos considerado, ou seja, ao ritmo
de um por mês.
Se estas comparações são um pouco cruas, fiquemos com um
número simples: o risco de desastre aéreo num voo com uma escala é equivalente
ao de conduzir quatro minutos numa auto-estrada». In Nuno Crato, Passeio
Aleatório, pela Ciência do Dia-a-Dia, Gradiva, Ciência Aberta, 2009, ISBN
978-989-616-216-0.
Cortesia de Gradiva/JDACT