domingo, 26 de agosto de 2012

José Marques. Os Pergaminhos da Confraria de S. João do Souto da cidade de Braga (1186-1545). «Exemplos típicos desta actividade associativa são as confrarias da Conceição de Sintra, datada de 1346, que além, da prática de actos do culto, exercia uma notável acção social junto dos irmãos necessitados…»


Documento nº 3
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«Nestas circunstâncias, impõe-se observar que a Confraria de S. João do Souto é muito mais antiga, remontando a tempos anteriores à primeira referência conhecida, constante da carta de venda de uma casa que Maria Pires, viúva de Rodrigo Pires, lhe fez em Fevereiro de 1253.
Embora não possamos fixar com rigor a data da sua fundação, cremos que deverá ser antecipada algumas décadas, como sugere o facto de o pergaminho mais antigo pertencente a este núcleo ser de 1186, seguindo-se-lhe outros de 1210, 1221 e 1239. É certo que neles não há qualquer alusão à confraria, o mesmo acontecendo com outros posteriores a 1253. Para o facto só encontramos explicação na transferência para a confraria, por doação, não só de propriedades, mas também dos respectivos títulos de posse. Podemos, assim, admitir a versão dos ‘Estatutos’ de 1652 quanto à sua antiguidade e indiscutível primazia face às demais confrarias bracarenses até agora conhecidas.

Natureza
Para melhor se compreender o funcionamento e vitalidade desta confraria durante mais de sete séculos, impõe-se proceder à definição da sua natureza específica. Recorde-se, entretanto, que à necessidade e urgência de conseguir tal objectivo está subjacente uma grave dificuldade, decorrente da inexistência de estatutos relativos ao período inicial e de o estudo das confrarias medievais portuguesas estar praticamente ainda por fazer, não havendo sequer, à escala da arquidiocese de Braga, um levantamento, por incompleto que seja, das confrarias então existentes. Idêntica situação se verifica no resto do País. Embora as confrarias dos mesteres se desenvolvam no século XVI, o referido autor registou, com muita propriedade, a actividade associativa anterior, cujos objectivos eram a ajuda mútua material e espiritual, prestada pelos confrades das mais variadas confrarias, e o culto do respectivo patrono celeste.
É assim que no período medieval se considera confraria:
  • Qualquer associação formada por homens livres para se ajudarem mutuamente no material como no espiritual, tratando-se como irmãos.
Exemplos típicos desta actividade associativa são as confrarias da Conceição de Sintra, datada de 1346, que além, da prática de actos do culto, exercia uma notável acção social junto dos irmãos necessitados, acudindo-lhes com o necessário na doença, solucionando litígios surgidos entre eles e providenciando para os sepultar com dignidade e que não lhes faltassem os sufrágios estatutários. Quase meio século mais antiga, de 1297, era a confraria instituída pelos ‘homens bons de Beja’, mais voltada para aspectos assistenciais». In José Marques, Os Pergaminhos da Confraria de S. João do Souto da cidade de Braga (1186-1545), revista Bracara Augusta, vol. XXXVI, números 81 e 82, Braga, 1982. 

Documento nº 3

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Cortesia de Livraria Cruz/JDACT