quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Uma Tapeçaria Inédita da Série dos feitos de D. João de Castro. Pedro Dias. «Em 28 de Fevereiro de 1545, por carta-patente passada por João III, em Évora, João de Castro foi nomeado vice-rei, sucedendo a Martim Afonso Sousa, e a 10 de Setembro chegou a Goa»



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«João de Castro nasceu em Lisboa, a 17 de Fevereiro de 1500, filho segundo de Álvaro de Castro, governador da Casa do Cível e vedor da Fazenda no tempo de João II e de Manuel I, e de D. Leonor de Noronha, filha de João de Almeida, 2º conde de Abrantes. Pertencia à alta nobreza portuguesa e, como tal, recebeu esmerada educação, tendo inclusivamente sido discípulo de Pedro Nunes. Privou com o infante Luís, como ele mesmo confessa em texto autógrafo. A formação científica e literária de Castro, a par do infante Luís, é referida pelo próprio na dedicatória que escreveu em 1539, no Roteiro de Goa a Diu, onde diz explicitamente:
  • sendo eu criado de sua real casa, onde a ciência da Cosmografia mais floresceu que noutra parte alguma desta redondeza que habitamos
Com dezoito anos foi para o Norte de África, onde serviu durante nove anos, sendo aí armado cavaleiro. Até 1535, desempenhou vários cargos na Corte, e casou-se com D. Leonor Coutinho, senhora da Casa de Marialva, de quem ainda era primo. Em 1535, esteve com o infante Luís, no ataque a Tunes, organizado por Carlos V e, voltando ao Reino, retirou-se para a sua morada na Serra de Sintra, a quinta da Fonte del-Rei, ou quinta da Penha Verde, que tinha herdado por morte do pai, em 1528.
Dizia que lhe tinha grande afeição, … por ser em terra onde meu pai e avós se criaram ….
No entanto, os contactos com a Corte tinham forçosamente que ser constantes.
Três anos volvidos, embarcou pela primeira vez para a Índia, na armada de Garcia de Noronha, seu cunhado, estando no socorro a Diu, quando do primeiro cerco. Durante estas viagens começou a fazer levantamentos hidrográficos e topográficos e a recolher imagens dos locais por onde passava, que depois lhe serviram para a elaboração dos seus preciosíssimos Roteiros.
Nos anos seguintes comandou navios em várias acções de protecção das nossas praças ou em acções punitivas. Finalmente, depois deste período esgotante, mas também produtivo, e de grande importância para o seu conhecimento da Índia, do Golfo Pérsico e da Costa Oriental da África, regressou a Lisboa, em 1542, sendo nomeado capitão-mor da armada de guarda-costas. No ano seguinte, socorreu as nossas fortificações de Marrocos, coroando-se uma vez mais de glória. A sua presença junto do infante Luís e do seu círculo de eruditos não se quebrou, pois de outro modo não poderia nunca ter produzido uma obra científica como a sua, que vai além da de um excelente técnico, pois denuncia um profundo conhecimento do Humanismo vigente, que então se impunha em força em Lisboa e em Coimbra, depois de ter tido o berço em Évora.


Em 28 de Fevereiro de 1545, por carta-patente passada por João III, em Évora, João de Castro foi nomeado vice-rei, sucedendo a Martim Afonso Sousa, e a 10 de Setembro chegou a Goa. A política de rigor e justiça que aplicou não agradou às altas patentes do Estado da Índia, nem a muitos dos naturais daquelas partes, mas facto é que tentou sanear as finanças e terminar com a corrupção que por lá grassava. Resolveu também a questão da anexação dos territórios de Bardês e Salcete, indispensáveis para a auto-suficiência de Goa e da ilha de Tiswadi, tendo para isso de derrotar as forças do Idalcão. Mas a sua principal acção militar foi a que teve no descerco de Diu, em 1547. Mas não teve descanso, pois logo avançou, para dar combate aos inimigos da presença portuguesa no Índico. João III prorrogou o seu mandato por mais três anos, mas pouco depois de ter chegado a notícia, adoeceu e faleceu, quando contava apenas quarenta e oito anos de idade. Foi sepultado na capela-mor do convento de São Francisco, e os seus restos mortais trasladados para o Reino em 1576, e depositados em São Domingos de Benfica.
Ainda em vida, João de Castro tornou-se uma verdadeira lenda, quer nas terras banhadas pelo Índico quer no Reino e no resto da Europa. Temido por uns e admirado por outros, a sua aura foi crescendo e, a pouco e pouco, o tempo urdiu uma trama de episódios que estão para além da realidade e que entram, pelo menos, no limiar da fábula.
Os feitos guerreiros de João de Castro correram pela Europa do seu tempo, na correspondência diplomática e nos relatos enviados para a Corte pelos agentes régios na Índia, em textos impressos, alguns deles imediatamente após os acontecimentos que relatam, de que se destaca o descerco heróico da cidade de Diu, nos Commentarius de rebus a Lusitanis in India apud Dium gestis anno salutatis nostrae MDXLVI, impresso em Coimbra, na tipografia de João Barreira, em 1548, da autoria de Diogo de Teive. Este humanista teve certamente acesso à crónica da autoria de Leonardo Nunes que incidia sobre este feito, então ainda manuscrita e que só viria a ser impressa muito mais tarde, a primeira das vezes, segundo cremos, em 1925, por iniciativa de António Baião e sob os auspícios da Academia das Ciências de Lisboa. Teive teve que conhecer igualmente a missiva que o próprio vice-rei escreveu a João III, em 16 de Janeiro de 1546, dando-lhe conta do que se tinha passado, hoje guardada na Torre do Tombo, caso contrário o seu relato não teria sido tão fiel». In Pedro Dias, Uma Tapeçaria Inédita da Série dos feitos de D. João de Castro, A importação de esculturas de Itália nos séculos XV e XVI, Coimbra, 1987.

continua
Cortesia de Wikipedia
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