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Morena
Não negues, confessa
que tens certa pena
que as mais raparigas
te chamem morena.
Pois eu não gostava,
parece-me a mim,
de ver o teu rosto
da cor do jasmim.
Eu não... mas enfim
é fraca a razão,
pois pouco te importa
que eu goste ou que não.
Mas olha as violetas
que, sendo umas pretas,
o cheiro que têm!
Vê lá que seria,
se Deus as fizesse
morenas também!
Tu és a mais rara
de todas as rosas;
e as coisas mais raras
são mais preciosas.
Há rosas dobradas
e há-as singelas;
mas são todas elas
azuis, amarelas.
De cor de açucenas,
de muita outra cor;
mas, rosas morenas,
só tu, linda flor.
E olha que foram
morenas e bem
as moças mais lindas
de Jerusalém.
E a virgem Maria
não sei... Mas seria
morena também.
Moreno era Cristo.
Vê lá depois disto
se ainda tens pena
que as mais raparigas
te chamem morena!
In Guerra Junqueiro
A Musa em Férias, Idílios e Sátiras, Lello &
Irmão Editores, Porto, 1949
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