«Nascido no Porto a 26 de Novembro de 1923, vem a
falecer em Lisboa no dia 10 de Março de 1980. E ninguém se lembrou de lhe
prestar uma homenagem. Vasco de Lima Couto foi um homem de Cultura. Poeta,
actor, encenador, declamador e homem da rádio. E, pelo que consta, todos estas
facetas fê-las bem, com dignidade e profissionalismo.
"Eu sou um poeta. Maldito, mas
poeta. Sou, também, actor. Incómodo, mas actor. Como actor, empresto. Como poeta,
dou. Entre estas duas posições, vivo. Não represento nenhuma escola, porque não
preciso de falar ao tempo do meu povo. Sou o tempo do meu povo! Se algum mérito
possuo, é o de não ser intelectual partido, para intelectuais de partido. Canto
como sei e sei como sinto. Não dou respostas convenientes, porque, felizmente,
sou inconveniente. Entre o homem chateado e a criança maravilhada, rasgo o
tempo que possuo. O mais que queiram ver, em mim, é estrume de animal que
mastiga a comida que não merece e que o povo paga".
Vasco de Lima Couto reflectia sobre as coisas do seu tempo. Pensava sobre a
vida cultural e social do seu país, principalmente quando se embrenhava nelas.
Em 1972, fala deste modo sobre a sua vida de actor:
"O Teatro está cheio de
espertos. Tanto lhes faz que seja assim como assado, e como isso a que chamam
teatro lhes facilita os dias, eles vão de peça em peça, sem talento e sem
religião. Depois, os que comandam esta anarquia da inteligência, que finge não
querer actores porque lhes têm de pagar de acordo com a força do seu trabalho;
preferem contratar amadores, com jeito ou não, que, ingénuos e incipientes,
podem ser enganados. E o resultado está à vista. Há peças que caem redondas
porque não foram vestidas, só foram cobertas. (...) O actor, hoje não pode ser
só o hábil senhor que se movimenta e inflexiona. Tem que ser, por dedução, a
inteligência e a cultura de quem espera e a angústia colectiva de quem procura.
A experiência só por si não chega. O actor tem que estar atento aos movimentos sociais
da sua época mesmo quando pelas circunstâncias anormais da vida tem de
transigir. Mas não deverá nunca transigir servindo-se da benevolência idiota
dos mecenas, porque esses, como dizia Afonso Lopes Vieira, entram na poesia
como os camelos no jardim. Ninguém proíbe ninguém de ser inteligente!"
Assembleia
A esquerda gritou:
é um vendido.
O centro disse:
não nos interessa.
E a direita exclamou:
é um comprado.
E no entanto,
não sou mais
que um homem sentado
a ver a festa
que resta.
A esquerda gritou:
é um vendido.
O centro disse:
não nos interessa.
E a direita exclamou:
é um comprado.
E no entanto,
não sou mais
que um homem sentado
a ver a festa
que resta.
Poema de Vasco Lima Couto, 1979
É extraordinária a actualidade destas palavras no nosso panorama teatral.
Infelizmente, mudou apenas uma coisa. Os medíocres, incipientes e amadores,
continuam a encher os palcos dos nossos teatros (e, já agora, das nossas
televisões), mas a receberem tanto ou mais de ‘cachet’, quanto os actores de
qualidades comprovadas». In Wikipédia, Conversa, muita Conversa, José Soares
Ferreira, 2005.
continua
Cortesia de Wikipédia/JDACT