(continuação)
«Para ele serão as mesmas exigências duma política de contradição, a
que se votará à nascença. Encontrará os mesmos prejuízos, que a sua origem o
obrigará a respeitar. Será tão incapaz, tão ininteligente e tão corrupto como
os seus antecessores. Que resta, pois? Fora dos governos legais e das ditaduras
constitucionais, o que resta? Sair do Constitucionalismo.
Sair francamente, radicalmente, sem transigências, sem contemplações do
funesto ‘regimen’, que não sabe senão
comprometer, desacreditar, anular as melhores vontades, que uma fatal ilusão leva
a abraçar-se com ele.
Sair do equivoco, dos meios termos, dos sofismas oficiais, para a
grande luz do céu democrático, para o ar livre da vida popular.
Sair, - para a República.
A situação é claríssima. Temos a inapreciável felicidade de encontrar
nos factos, nos factos palpáveis do dia, os melhores argumentos da nossa causa.
A impotência dos governos legais, de um lado, do outro a impotência da
ditadura, são as premissas oficiais de que o espírito público tira sem esforço,
naturalmente, como que instintivamente, esta conclusão:
- A República. Fora da República, o mundo político oferece ao povo; hoje a incapacidade, amanhã a bancarrota, depois a anarquia, depois, depois… Quem sabe dizer o que virá depois?
Conclusão do artigo de “A República”, 1870, nº 7.
Da Moral religiosa entre os Gregos
Mitologia
O nome de gregos, dizia Isócrates, designa menos um certo povo do que
uma sociedade de homens educados e polidos; e melhor todos os que participam da
nossa civilização, do que os que partilham a mesma origem.
Até que ponto é exacta esta afirmação? Apresenta de facto a Grécia
antiga uma unidade de raça selada com um mesmo cunho de criações instintivas,
por toda a parte irmãs? Ou foi, como diz Isócrates, um império e não uma
nacionalidade? Nas agremiações políticas dos povos podem, com efeito,
distinguir-se estas duas classes: As Nações e os Impérios. O tipo de Império,
tal como no-lo deram na história antiga os romanos, e na moderna os alemães ou
os ingleses, agregações etnológicas inorgânicas, determinadas por um princípio
de moral ou religiosa ou política, difere profundamente do outro tipo, de Nação,
que é a unificação de todos os representantes de uma mesma individualidade
etnológica num corpo político, com são hoje a Itália, a Espanha, a França e a
Alemanha.
Contestar a irmandade de origem de todas as populações que no período
das migrações assentaram na Grécia, é coisa que o estado da erudição histórica
não autoriza; mas essa mesma erudição nos permite observar as profundas
diferenças que entre si distinguiam as regiões gregas. Quem olhar para a
Grécia, especialmente nos períodos que antecedem as guerras médicas, há-de por
força reconhecer uma situação análoga ao que ofereciam na Idade Média as nações
chegadas hoje a um estado de unidade proximamente completa. Entretanto a
Espanha, por exemplo, unificada por meio de revoluções sucessivas, foi por muitos
séculos um verdadeiro feixe de nacionalidades, cujos traços característicos,
mal apagados ainda, não é difícil descobrir (245)». In J.
Oliveira Martins, Páginas Desconhecidas, O Golpe Militar de 19 de Maio de 1870
e a Ditadura de Saldanha, Seara Nova 1948, Lisboa.
continua
Cortesia de Seara Nova/JDACT