Painel que se encontra por cima do altar da Capela Templária da Quinta da Regaleira.
É uma imagem muito peculiar e de grande beleza. Sob a égide do Espírito Santo,
Cristo Ressuscitado, o iniciador coroa Maria.
Maria com os seus braços cruzados simboliza a alma harmonizada pronta a receber a luz do Eu-espiritual.
jdact e cortesia de wikipedia
(continuação)
Entrevista com José Manuel Anes
O Mundo Imaginal e a Catástrofe Metafísica do Ocidente
Paulo: Depois de todos estes estudos relacionados com a antropologia da
religião e o pensamento simbólico, não haveria a possibilidade, digamos, de
efectuar uma síntese com o escopo de os divurgar não só no ensino
universitário, como já acontece, mas também no ensino secundário? O obiectivo
seria que um aluno do ensino secundário soubesse o que era o Rito, o que ere o Mito, em que consiste a linguagem
dos símbolos, qual o conceito de
sagrado como elemento estruturante
da consciência humana. Qual é o seu ponto de vista sobre esta proposta?
José: Eu penso que sim. E,
digamos, não apenas a antropologia da religião e do simbólico mas, mais geral,
a antropologia cultural. Penso que a antropologia cultural moderna poderia
proporcionar uma grande educação cívica aos nossos jovens, isto é, substituir
deste modo aquelas disciplinas que no nosso tempo se chamavam, por exemplo,
religião e moral, abrindo espaço e respeitando o espaço daqueles que quiserem
uma formação moral e religiosa. Eu penso que o Estado deveria fornecer um tipo
de formação cívica com base numa antropologia esclarecida. Abertura ao outro
lado da antropologia, ao estudo do outro. E, para estudar o outro, temos
que nos abrir ao outro, não com arrogância, não com etnocentrismo, mas com
compreensão, com aquilo que muitos não gostam que se chame assim, mas que é a tolerância.
Uma tolerância activa não é uma tolerância passiva. É necessário
abrir-se ao desconhecido. O desconhecido é o outro. E isso é o que nos assusta:
o outro. Por isso é que há fenómenos
de racismo, porque o outro é misterioso, estranho, diferente. Mas temos de compreender
o que é diferente. A antropologia tinha um papel muito importante.
Lamento que ela tenha sido escorraçada também dos currículos do secundário.
Paulo: Os jovens hoje em dia têm uma carga horária brutal, ocupada, na sua
maioria, por disciplinas de ordem teórico-racional, o que para os mais
sensíveis tem um impacto muito negativo. Deveria haver disciplinas que estimulassem
a imaginação criadora e o pensamento simbólico. Neste caso a antropologia pode
vir a ter uma função importante.
José: Exactamente. Creio até
que uma antropologia bem leccionada, e também é possível ministrar uma antropologia
expressiva, actualizada e aberta, sem deixar de ser científica, podia realmente
preparar-nos para sermos mais tolerantes, mais fraternos com os outros e também
abertos a outras dimensões do espírito humano que não fosse apenas a dimensão
racional.
O Cristianismo Esotérico e a
Dimensão Divina do Homem
"Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus
habita em vós? In São Paulo
Paulo: Outra área que também tem merecido a atenção do mundo académico,
nomeadamente no seguimento das descobertas dos Manuscritos do Mar Morto e da Biblioteca
de Nag Hammadi, é o estudo histórico, e até hermenêutico, neste caso, dou
como exemplo a professora Elaine Pagels, das origens do cristianismo. Qual é o
seu olhar sobre o período inicial da religião cristã?
José: No começo do
cristianismo, durante os três primeiros séculos, havia várias correntes, várias
interpretações, não havia norma. A primeira corrente que surge é, a Igreja
de Jerusalém, que nunca aceita a divindade de Cristo, a Igreja
de Tiago. O grande construtor dessa dimensão divina de Cristo
é São
Paulo. Não vamos dizer que ela não existisse já, ela existe ab
initio, mas é realmente São Paulo que dá essa dimensão
divina a Cristo.
Paulo: Mas em São Paulo, segundo
muitos hermeneutas, o seu Cristo
é um Cristo interno, que deve ser
despertado no interior do ser humano. S.
Paulo, com todo o seu esoterismo cristão, parece professar aquilo a que Gilbert Durand chamou o monoteísmo
do eu. No fundo é aquele conceito de Atma do Oriente, a Célula de
Deus no homem, conforme a expressão utilizada por António Cândido Franco. Conceito, segundo o qual, só através da
alma espiritual o homem chega ao Pai.
José: Jean-Pierre Laurant, num
livro recente, propõe que, em vez de doutrina interna ou oculta, o esoterismo
é a doutrina da constituição oculta divina do homem.
Paulo: Que interessante.
In Paulo Loução, A Alma Secreta de Portugal, Ésquilo Edições &
Multimédia, 2004, ISBN 972-8605-15-3.
continua
Cortesia de Ésquilo/JDACT