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«Há muito que os historiadores
suspeitavam de que a “praga de Justiniano”, uma doença
altamente contagiosa que, entre os anos de 541 e 750 da nossa era, matou mais
de metade da população europeia e contribuiu para a queda do Império Romano do
Oriente era, na realidade, a peste bubónica. Só que, até aqui, não existiam
dados científicos que corroborassem esta hipótese. Nada permitia afirmar que a
mortal doença se manifestara de forma pandémica na Europa antes da Idade Média,
sendo oficialmente a Peste Negra que matou mais de 100
milhões de pessoas entre 1347 e 1351 e de cujas consequências a Europa
demorou 150 anos a recuperar, era a primeira pandemia oficial de peste
bubónica.
Mas a partir de agora há provas
concretas: uma equipa internacional de cientistas acaba de acrescentar um novo
“ramo”
à “árvore
genealógica” genética da bactéria responsável pela peste bubónica, a Yersinia
pestis. E a conclusão é a de que, afinal, terá havido uma pandemia de
peste bubónica vários séculos mais cedo, que terá começado quando o imperador Justiniano
I ainda reinava em Constantinopla.
Johannes Krause, da Universidade
de Tübingen (Alemanha), e colegas, que em 2011 tinham reconstituído o
genoma completo da estirpe da Yersinia pestis responsável pela
pandemia de Peste Negra, compararam agora este ADN bacteriano ancestral com
o de 311 estirpes modernas da bactéria da peste bubónica. Os seus resultados foram
publicados na revista online de acesso livre PLoS One. Segundo explica um comunicado
daquela universidade, os cientistas confirmaram resultados já obtidos no ano
passado, mostrando que 275 dessas estirpes modernas descendem da bactéria
medieval. Mas, desta vez, também identificaram 11 estirpes modernas que
divergiram das outras, formando um novo “ramo” da árvore, entre os séculos
VII e X. Isto sugere que terá havido, já naquela altura, que coincide grosso
modo com a praga de Justiniano, um surto devastador de peste bubónica. “A nossa nova análise indica que a peste bubónica poderá ter sido um
assassino em massa já no fim do Império Romano”, diz Krause, citado
pelo mesmo comunicado. “A praga de Justiniano parece ser a que
corresponde melhor a esta pandemia mais antiga.”
In Ana Gerschenfeld, A Peste Negra
medieval não foi primeira pandemia de peste bubónica, ´Público’,
Ciência.
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